A fadista Vanessa Alves estará presente no NOS Alive, actuando no placo EDP Fado Café, ao lado de nomes como Hélder Moutinho, Marco Oliveira ou Ricardo Parreira. O seu percurso no fado é reconhecido, pese embora não tenha nenhum disco editado. Em entrevista ao Infocul.pt a fadista falou sobre o seu percurso, o NOS Alive, a passagem pelo Teatro Maria Vitória, o seu pai e claro o Sporting Clube de Portugal.
Vanessa Alves nasceu em 1985 e encontrou-se desde cedo com o fado, um amor que foi crescendo e sendo por si e pelo seu pai alimentado. A sua voz arrebata nos fados tradicionais e terá este ano um teste de fogo ao actuar no importante certame chamado NOS Alive.
A fadista recordou em entrevista ao Infocul.pt o seu percurso, o convite para actuar no NOS Alive e dos outros amores além do fado.
O Fado está presente na tua vida desde quando?
Olha Rui, o Fado está presente na minha vida desde sempre, porque lá em casa sempre se ouviu fado, o meu pai principalmente. A cantar fado quase há dezassete anos, fará em Novembro 17 anos.
Não sendo o Fado um género musical muito do agrado das crianças, agora mais, quando é que te apaixonaste pelo Fado?
Eu nunca fui uma criança feliz. Acho que foi ai com nove anos, o meu avô tinha uma cassete de Maria Teresa de Noronha e eu dei por mim, sem saber nada de fados, a escrever as letras que ela cantava e na altura lembro-me de achar piada que quase todas as frases se repetiam, porque a Maria Teresa de Noronha era uma fadista tradicional e nas letras do fado tradicional as frases repetem pelo menos duas vezes na quadra ou na sextilha. Ainda tenho esse bloco, que preenchi lá na terra dos meus avós, e o bloco ainda lá está na terra dos meus avós…
E qual a localidade?
Perto de Arganil. Aldeia de Casal Novo, concelho de Arganil no distrito de Coimbra.
Quando foi a primeira vez que cantaste numa casa de fados e como surgiu essa possibilidade?
Não foi bem numa casa de fados. Foi numa noite de fados no LNEC. Nós temos um amigo que trabalhava no LNEC, provavelmente ainda trabalha, e houve uma noite de fados em que o meu pai entendeu que eu devia cantar , visto que eu cantava lá em casa. Foi, não quero mentir, a 19 de Novembro de 1999, e eu fui cantar, sem saber bem o que estava a fazer, não sabia o que era um tom, não sabia nada. Toda a gente gostou muito e depois nunca mais parei.
O Fado que te levou a cantar numa das mais conceituadas casas de fado de Lisboa, o Sr. Vinho…
Há 10 anos.
O Fado levou-te também ao Teatro Maria Vitória. Quando surgiu essa possibilidade?
Em 2014. O convite surgiu em Julho de 2014 por Hélder Freire da Costa.
Como foi participar numa revista à portuguesa?
Foi profissionalmente uma experiência enriquecedora.
Agora aproxima-se um grande desafio. És uma das fadistas que vai actuar no novo palco do NOS Alive, dedicado ao Fado. Quando surgiu esta possibilidade e como reagiste?
O Hélder Moutinho convidou-me. Cheguei ao Sr. Vinho e o chefe de sala, o senhor Lima, disse-me ‘ o Hélder Moutinho ligou para cá para falar consigo, mas eu como não sabia se estava ou não…’ e eu disse’ deixe estar que eu já lhe ligo’. Quando peguei no telefone tinha três chamadas não atendidas mais três mensagens. Liguei de volta pensado que tinha acontecido alguma coisa e era o Hélder a convidar-me para ir ao NOS Alive, como se fosse a coisa mais banal que há. Perguntou-me se eu queria ir e eu disse claro que quero, então ele disse-me ‘és minha convidada, vão ser três noites de fado, nós actuaremos no dia 08 de Julho’. Depois desliguei o telefone e fiquei a pensar ‘eu vou ao Nos Alive?’
Como estás a preparar a participação no festival que é por muitos considerado como o melhor festival de música em Portugal?
Vamos trabalhar em equipa. Ainda não falámos disso. Serei eu, o Hélder Moutinho, o Ricardo Parreira e o Marco Oliveira. Não sei como será ma certamente que haverá fado, pois somos todos fadistas tradicionais, vamos certamente incidir no fado tradicional, pois caso fizéssemos outra coisa estaríamos a mentir ao público. Não teria lógica nenhuma no que a nós diz respeito. Imagina que eu agora aprendia a cantar marchinhas…Não tenho nada contra marchinhas mas não é a minha praia.
Estás a ter ajuda na tua carreira da HM Música, do Héler Moutinho. O que está a ser preparado, onde é que as pessoas te podem ouvir…
Podem-me encontrar todos os dias no Sr. Vinho e à quarta-feira na Bela Vinhos e Petiscos. A nível de espectáculos estamos a preparar, nada que se possa dizer ainda, mas estamos a preparar…
Tu ainda não tens disco editado. Terá 2016, disco a caminho?
Poderá ter, poderá não ter. Sabes que eu nunca ocupei a pensar nisso, acho que quando as coisas têm que surgir elas surgem. Não sou de andar aflita, à procura e de ter noites mal dormidas por causa disso. E acho que só se pode ser feliz assim, no meu caso não ando à procura disso.
Ao longo da tua vida pessoal e artística, há uma pessoa com importância destacada, o teu pai. É ele que te incentiva no fado e naquele que é provavelmente um dos teus maiores amore, o Sporting Clube de Portugal. Lembro-me de um espectáculo recente teu, em quando sobes a palco, alguém da plateia gritou “Viva o Sporting”. Começas a ser mais conhecida por ser fadista ou por seres do Sporting? (risos)
Pouco me importa, honestamente. Porque sou as duas coisas, sou mesmo as duas coisas. E se quiserem definir-me como sportinguista definam-me. Se quiserem definir-me como fadista, definam-me. Porque nenhuma delas está errada. Se me que quiserem definir como fadista sportinguista, também não é nada que me chateie. De todo.
Qual a importância do teu pai em todo este percurso?
É surreal. É ele, ponto final. Foi ele que fez tudo! Foi ele que me incentivou desde o primeiro dia, foi ele que quando eu não queria, tinha 14 anos e o fado era uma chatice, era ele que dizia vamos lá? E eu as vezes ia contrariada mas ia, e ainda bem que fui porque nasceu ain uma das minhas maiores paixões.
O teu pai é o teu porto de abrigo?
Ás vezes. Há portos que se agitam, às vezes o porto não é o sitio mais abrigado para estarmos. Mas eu sei que se precisar, ele é a primeira pessoa a lá estar.
Se tivesses que resumir a tua vida a um fado qual seria?
Isso é muito complicado. Eu acho que a minha não, mas o ser fadista, pode muito bem enquadrar-se no “Triste Sorte” do João Ferreira Rosa que é brilhantemente interpretado pelo próprio, no fado cravo. Se houvesse um hino fadista acho que seria esse.
O Fado é Património Imaterial da Humanidade. Como tens assistido a todo este boom? O que te questiono pode ser polémico, por um lado tem o reconhecimento devido mas por outro achas que pode ser banalizado?
Banalizado nunca. Eu tenho muito orgulho no facto de o Fado ser Património Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, mas no entanto parece que se tornou mais acessível qualquer pessoa cantar, qualquer pessoa acha que é fadista. Há uma grande distância entre ser fadista e cantar fados e acho que com este boom há muita gente a cantar fado, mas fadistas são muito poucos. Mas caso não houvesse tanta gente a cantar fado, não teríamos a possibilidade de descobrir fadistas. O tempo encarrega-se sempre de distinguir as coisas e a longo prazo ficará quem tem que ficar.
“Não é fadista quem quer mas sim quem nasceu fadista”. Continua a fazer todo o sentido?
Todo o sentido!
Uma mensagem para as pessoas que admiram o teu trabalho…
Só lhe posso agradecer, não tenho disco editado mas há muitas pessoas a admirarem o meu trabalho. Gosto quando chego ao Sr. Vinho e dizem ‘reservaram uma mesa para te ouvir’. Poucas coisa se comparam a isso.
O Infocul.PT agradece à HM Música e à fadista Vanessa Alves todas as facilidades concedidas para a realização de entrevista.