Demorou dois meses até os Deuses Humildes da Cultura deixarem o pé fugir para o chinelo

 

 

No editorial de Dezembro, aquando do 3º aniversário e mudança de imagem, revelava eu que o Infocul iria continuar a ser irreverente, abrangente e isento. Não existem estatutos nem produtos que se sobreponham à liberdade de imprensa e de expressão. Porque não se pode ser credível apenas aquando dos elogios caso contrário, quem assim o entende, acaba por facilmente cair na hipocrisia.

2019 marca os 20 anos da morte de Amália Rodrigues, nome maior do Fado. Os que agora tentam continuar a tradição poucos são aqueles que poderemos considerar de topo. Na verdade, muito poucos. A mediocridade impera e criam-se estrelas sem suporte algum, bastando ser agenciados por um guru do mercado e ter alguma acção nas redes sociais. O povo, maioritariamente ignorante, vai atrás e lá se cria uma estrela. O público que vai para salas que parecem crematórios aplaudir ‘fadistas, alguma vez foram a uma casa de fado? Se não foram, vão! Depois comparem e enviem-me as vossas opiniões.

Depois temos o pop-fusão-vintage-contemporâneo-fado. Confuso? Nada disso. Imagine uma bimby, coloca lá todos os ingredientes e depois sai o bolo. No fado actual, salvo raras excepções, é isto. Nada contra as fusões, mas sejam intelectualmente honestos e assumam. Deixem lá o novo e o velho fado que já ninguém aguenta esta lenga-lenga sem fundamento algum. Helder Moutinho, Camané, Ricardo Ribeiro, Gonçalo Salgueiro e Francisco Salvação Barreto, no masculino, e Ana Moura, Carminho, Raquel Tavares e Katia Guerreiro são excepções à mediocridade instalada. Se há bons intérpretes? Sim, mas daí a serem estrelas…há todo um mundo!

Quanto ao Fado que se prestem todas as homenagens a Amália Rodrigues, mas sejam criativos. Não coloquem artistas que nada têm que os ligue a Amália a integrar cartazes apenas para tentar vender mais uns bilhetes. 2019 e 2020 prometem ser intensos nas homenagens a Amália. Resta-nos rezar, para quem é crente, e esperar que um iluminado coerente tire um coelho da cartola. Até agora apenas fogo de vista e fraco… Colocarem lá pessoas que foram detractores de Amália soa a penitência por encomenda.

Deixando o Fado e passando às ‘Assessoras de Imprensa’. Promover um artista é mais do que enviar um press-release e se forem artistas de áreas distintas convém que o formato dos press-releases sejam diferentes. Mas não. Tudo igual! Deve ser para aumentar os legionários da igualdade, esquecendo-se, ou cúmulo da ignorância, da diferenciação que deve existir. Quando muitas vezes os artistas se queixarem da falta de ‘promoção’ pensem em quem depositaram essa responsabilidade.

As pressões e ameaças, inclusive de outros meios de comunicação, soam a desespero. E caso necessitem há medicação para isso.

No título dizia cultura e eu apenas falei de Fado? É verdade! As restantes áreas ficam para tempo oportuno. Não mencionei nenhum fadista, em actividade, dos mais antigos por encontrarem-se a largos quilómetros de distanciamento da banalidade actual. Felizmente! Serão sempre Grandes!

Rui Lavrador

Iniciou em 2011 o seu percurso em comunicação social, tendo integrado vários projectos editoriais. Durante o seu percurso integrou projectos como Jornal Hardmúsica, LusoNotícias, Toureio.pt, ODigital.pt, entre outros Órgãos de Comunicação Social nacionais, na redacção de vários artigos. Entrevistou a grande maioria das personalidades mais importantes da vida social e cultural do país, destacando-se, também, na apreciação de vários espectáculos. Durante o seu percurso, deu a conhecer vários artistas, até então desconhecidos, ao grande público. Em 2015 criou e fundou o Infocul.pt, projecto no qual assume a direcção editorial.

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