2020 tem sido um ano que não redigi um único artigo de opinião. Propositadamente, e porque na vida como toureio, devemos saber esperar pelos momentos certos. Após um triunfal Dia da Tauromaquia, este é o momento certo.
O pior que um ser humano pode fazer é esconder-se de si próprio e querer agradar a todos. Não resulta e revela falta de valores. O Infocul.pt, órgão de comunicação social que dirijo, nunca menosprezou nenhuma arte! Repito, nenhuma.
Não nos cabe a nós, Infocul.pt., criar discriminação cultural por uma questão de gosto (seja da parte da direcção ou de qualquer outro elemento da equipa). Cabe-nos dar a conhecer e informar. O público decide se gosta ou não, se vai ou não, se segue ou não segue. Se é em democracia que vivemos, então democraticamente devemos agir.
Também nunca escondi as minhas preferências pessoais. Mas sempre as coloquei de fora dos critérios editoriais do órgão que dirijo. O Infocul.pt é muito mais importante do que qualquer preferência minha. Será sempre assim, como tem sido até hoje.
Sobre o assunto deste artigo, o Dia da Tauromaquia, há muito de positivo a retirar.
Uma adesão fortíssima do público. Uma diversidade (palavra tão em voga para determinados sectores políticos, sociais, intelectuais, opinativos) de actividades que permitiu ter ali todos os tipos de público: das artes plásticas à música, da gastronomia à tauromaquia, do artesanato à literatura.
O Festival taurino contou com casa cheia, perto de lotação esgotada. Posto isto, e mesmo com alguns erros na promoção deste dia, a Prótoiro através da sua marca Touradas está de parabéns.
Em termos políticos, o governo faltou à chamada, a presidência da república idem. Isto é grave. O poder político não é eleito para dar a cara por parte da população, mas sim pela totalidade da população. Ou a democracia é apenas útil quando se destina a algo que, pessoalmente, gostamos?
As plataformas animalistas marcaram presença, em número reduzido. Até quando o governo apostará numa postura de minoria (a mesma com que foi eleito) em termos de lei? Se a tauromaquia está incluída legalmente na área cultural, porque tem um IVA diferenciado? Todas estas perguntas continuam sem reposta. E a questão da evolução ou diversidade nunca poderá sobrepor-se à Identidade de um povo. Portugal é urbano e rural. Tem de se respeitar os dois segmentos.
Ontem, a tauromaquia demonstrou a sua força. Que a Prótoiro saiba, e consiga, agora politicamente potenciar tudo o que de bom ontem conseguiu, em conjunto com os aficionados.
De uma vez por todas, o sector tauromáquico tem de tomar duas atitudes: 1- Não fechar-se sobre si próprio; 2- Integrar-se e associar-se a outras áreas artísticas, como aliás historicamente aconteceu durante décadas.
Nem tudo ficou resolvido ontem. O sector continuará as suas cisões e divisões internas, dos artistas à imprensa. Mas que bonito seria que ontem fosse o primeiro dia de um mundo melhor, dentro e fora da tauromaquia. Que a liberdade não fosse apenas uma palavra, mas sim a realidade.
“Esta é a nossa casa” foi a frase marcante deste dia, exibida, numa grande faixa, no final do festival taurino. Uma mensagem para Álvaro Covões, o novo responsável pelo Campo Pequeno que publicamente ainda não deu a conhecer o que pretende (ou não) fazer com a vertente tauromáquica num espaço edificado para esse efeito.
Que o festival de ontem não seja, no futuro, lembrado como nostálgico mas sim como próspero.