Jorge Fernando: 50 anos de ‘Boa Noite solidão’ e uma noite inesquecível no Tivoli

Jorge Fernando: 50 anos de ‘Boa Noite solidão’ e uma noite inesquecível no Tivoli, ontem, 14 de Outubro.

Jorge Fernando: 50 anos de 'Boa Noite solidão' e uma noite inesquecível no Tivoli

Texto: Rui Lavrador
Fotografias: Rute Nunes e Carlos Pedroso

Há noites que ficam gravadas na “história da história da gente” e a de ontem no Teatro Tivoli BBVA, completamente esgotado, será certamente uma das que estará na alma e no coração de todos os que ali puderam presenciar uma aula do catedrático da música, Jorge Fernando.

São 50 anos de ‘Boa Noite Solidão’, são 51 anos de ‘Trigueirinha’, são 66 de Jorge Fernando da Silva Nunes, artisticamente conhecido por Jorge Fernando.

Todos nós já ouvimos alguma canção composta ou escrita, ou ambas em simultâneo, da sua autoria. Dono de uma rara sensibilidade, com uma vida que lhe permitiu conhecer pessoas das mais pobres às mais poderosas, inspirar artistas e não artistas, tocar a doçura do mais empedernido coração, Jorge Fernando é um ex-libris da nossa cultura.

Trabalhou com o Rei do Fado, Fernando Maurício, acompanhou a Rainha do Fado (e da música portuguesa), Amália Rodrigues, escreveu para os nomes mais destacados da actualidade fadista e tem múltiplas colaborações com artistas de outros géneros musicais.  E até Madonna, sim – a estrela planetária, se rendeu já aos encantos deste homem sedutor, de eterno olhar de menino e com um coração (agora remodelado e felizmente a funcionar bem) onde cabe todo o mundo. É um homem de afectos, algo que actualmente escasseia num mundo em que a arma do insulto – e outras piores – parece reinar.

Mas, Jorge Fernando tem uma carreira ímpar! Apenas nasceu em Portugal. E ser português é bom, mas limita muito os mais notáveis artistas deste país, ficando sempre a ideia de que poderiam ser mais valorizados. É o caso deste sobre o qual se escreve neste texto.

No Teatro Tivoli BBVA conseguiu-se perceber a dimensão de Jorge Fernando, perante um público que foi desde importantes personalidades (não confundir com personalidades mediáticas e de prazo de validade reduzido) ao mais simples plebeu, porque na casa deste artista (entenda-se, palco) cabem todos por igual. Houve lágrimas, sorrisos, olhos marejados e corações que saíram dali com mais amor, do que aquele com que entraram.

O alinhamento foi estupendamente bem construído (bom, senti falta do Rubra Cor – mas podem ouvir no disco Inéditos, gravado nesta mesma sala há 23 anos), o artista esteve poderoso em todo o concerto e dominou todos os tempos como há muito tempo eu não via alguém fazer (e o número de concertos que acompanhado é muito elevado).

A sua banda esteve a roçar a perfeição, desde aqueles que o acompanham há 40 anos (Custódio Castelo e Filipe Larsen) aos que se foram juntando mais recentemente (Ruben Alves, Jorge Nunes – filho de Jorge Fernando e também muito talentoso – Kapa de Freitas e Ivo Martins).

É muito difícil um espectáculo conter classe, elegância e simplicidade em simultâneo, mais ainda se juntarmos a verdade, essa fugidia dos tempos actuais, e o artista conseguiu-o com uma aparente facilidade que apenas os génios conseguem.

Teve dois convidados especiais – Francisco Santos, conhecido por Kiko, e Raquel Tavares. A fadista teve o condão de levantar o público das cadeiras, algo que a deixou visivelmente emocionada e de voz embargada. Kiko demonstrou potencial (e ainda muito para evoluir), enquanto Raquel esteve assombrosa (as saudades que este escriba tinha de escrever estas palavras sobre a artista em questão), demonstrando que a música é a sua casa (não impedindo que possa fazer outras coisas que lhe deem prazer).

Destaque para o tema ‘Ai Vida’ em que se pôde ouvir a voz de Amália Rodrigues (num tema que ambos gravaram em dueto) e para o ‘Lágrima’, especialmente dedicado a Jorge Nuno Pinto da Costa, presente na plateia.

Uma noite extraordinária, com um artista único, mas acima de tudo um homem muito especial e que este país tem sorte em ter. Parabéns, Comendador Jorge Fernando!

Nota: Apenas foi permitida a captação de imagem nos primeiros 4 temas. Por esse motivo, o Infocul não pode apresentar fotografias de Raquel Tavares em palco. Isto pese o concerto ser de celebração dos 50 anos de ‘Boa Noite Solidão’ e deste tema ter sido regravado recentemente num dueto de Jorge Fernando e Raquel Tavares. São opções de produção que respeitamos, mas que são difíceis de entender, principalmente quando o Infocul foi o único meio de comunicação social com fotógrafo na sala.

Alinhamento:

A Minha História (Kiko e Jorge Fernando)
Colo de mãe
Trigueirinha
Apenas desalento
Pois sim
Fado Triste Stripper
Bela Adormecida
Bola prá frente
Pois é
Valsa dos Amantes
Zaffirade
Caça
Estranhamente
Chegou a hora
Lágrima
Desespero
Quebranto (Jorge Fernando e Raquel Tavares)
Por momentos (Raquel Tavares)
Boa noite solidão (Jorge Fernando e Raquel Tavares)
Pode ser saudade
Quem vai ao fado
Chuva (Jorge Fernando e Kiko)
Ai vida (com voz de Amália Rodrigues)
Umbadá

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