Luís de Matos tem novo espectáculo: “Luto por aquilo em que acredito. Luto pela minha equipa e por mim”

‘Luís de Matos #CONECTADOS’ é o espectáculo que Luís de Matos levará ao Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, a partir de 18 de Dezembro. Antes, concedeu uma entrevista ao Infocul para abordar um espectáculo que terá público ao vivo e…em casa.

É um espectáculo hibrido e que promete agradar a miúdos e graúdos.

O novo espectáculo de Luis de Matos vai estar no Teatro do centro de Lisboa de 18 de Dezembro a 3 de Janeiro. Seguindo-se Coimbra, no Convento São Francisco de 8 a 10 de Janeiro e o Porto nos dias 15 e 16 de Janeiro no Coliseu Porto Ageas.

Luís, este ano não haverá ‘Impossível ao Vivo’ mas estaremos todos ‘#Conectados’. Começo por questionar de que forma existirá esta conecção entre o palco, a plateia…e as pessoas que podem assistir ao espectáculo em casa?

Estaremos conectados como nunca! Não se trata de um espectáculo virtual nem tão pouco um a que se assiste via streaming. “Luis de Matos #CONECTADOS” é um espectáculo onde quem assiste no teatro interage com os seus amigos e familiares, que se encontram em suas casas, e os de todos os outros espectadores. É uma experiência que acontece no teatro e em casa de alguém que lhe é querido porque ao efectuar a comprar de bilhetes para o espectáculo receberá, totalmente grátis, por cada dois bilhetes, um acesso virtual de valor semelhante e que poderá oferecer a quem entender. Quando vamos assistir a um espectáculo levamos connosco memórias que jamais esqueceremos e histórias para contar. Imagine poder convidar para assistir, a partir de casa, o mesmo amigo ou familiar a quem iria contar o que aconteceu. Estamos cansados de isolamentos totais e parciais, precisamos interagir entre nós enquanto comunidade.

Inicialmente este conceito surgiu fruto da contingência, mas rapidamente foi alimentado pela ambição de inovar, tentando fazer mais e melhor.

Mais uma vez, o Luís aposta num espectáculo para toda a família. Numa altura em que nos é pedido afastamento físico, há também a necessidade de se criarem conteúdos que de alguma forma permita esta ligação este as pessoas?

Absolutamente. Como digo, há um défice de socialização que deixará inevitavelmente consequências. Temos que tudo fazer para restabelecer a resposta a essa necessidade de interacção que nos define enquanto seres humanos.

Em contexto de espectáculo, julgo que nenhuma outra produção terá levado tão longe o conceito de espectáculo híbrido… A magia acontece no palco, na plateia e na casa de todos aqueles que os espectadores convidarem. É uma experiência verdadeiramente partilhada, inovadora e inesquecível, que pretende celebrar a união através de um laço invisível que se sente e nos recorda que só existimos quando estamos conectados. Mais do que nunca, é importante que estejamos e nos sintamos verdadeiramente conectados.

Sendo um metódico laboral e constantemente a criar conteúdos, tenho de lhe perguntar quando começou a pensar neste espectáculo e quais os maiores desafios para o conseguir tornar exequível?

A ideia surgiu-me no início de Agosto quando fui contratado para fazer dois espectáculos em Espanha, Zamora, que viriam a acontecer em Setembro. Nesse momento achei que o nunca tinha tido tanta expressão o permanente desafio de contemporaneidade que sempre reclamo para o meu trabalho. De que forma poderíamos, sem as quebrar, contrariar as regras das plateias reduzidas. Seria possível executar um tal nível de interacção e dimensão que permitisse partilhar o meu trabalho com uma plateia maior, em dimensão e simbolismo, do que aquela que em condições normais cabia no próprio teatro?

A primeira dificuldade foi a de explicar à empresa entradas.com (a ticketline de Espanha) que precisávamos dos endereços de email das pessoas que comprassem bilhetes e que esses emails serviriam para gerar códigos únicos e pessoais para o acesso virtual dos amigos e familiares que convidassem. A seguir foi comunicar sem confundir. A nossa proposta era tão diferente e inovadora que foi preciso encontar uma forma simples e eficaz de explicar.

No que respeita ao conteúdo foi muito libertador e desafiante pensar em algo nunca antes experimentado. Essa foi a melhor parte!

Eu não consigo deixar de lhe perguntar, até por ser recente. A sua intervenção na marcha pela cultura foi das mais aplaudidas e teve uma enorme repercussão. A dias de estrear um novo espectáculo tem receio que seja adiado, devido às constantes alterações que o governo tem aplicado no combate à pandemia?

O calendário de datas e horas que anunciamos depois da última comunicação do primeiro ministro António Costa são à prova de adiamento ou cancelamento! Estes vão mesmo acontecer!

Em relação à minha intervenção na Manifestação do Campo Pequeno, fi-la de coração, tentando que fosse simples, clara e pragmática, sem ter escrito previamente o que ia dizer. Como referi na altura, não escrevo discursos para falar em família. A família da cultura está em perigo e estava reunida ali. O nosso sector não pode trabalhar em takeaway, delivery ou teletrabalho. As quebras de facturação das empresas promotoras e de produção de espectáculos e eventos, de audiovisuais, de palcos e tendas, de equipamento é, em média, de 90%.

A cultura pública continua, e bem, a receber como se não existisse qualquer pandemia. Porém, esta teria sido a altura para o Governo reconhecer que o sector cultural operado por produtores, promotores e artistas de forma independente é, de facto, gerador de riqueza para o país. Ninguém pediu subsídios, pedimos respeito. O que mais me desgosta na atitude do governo não são, de maneira nenhuma, as medidas que implementa a cada momento no sentido de conter a pandemia, mas sim a total ausência de qualquer referência ao sector cultural.

Na última comunicação do primeiro ministro António Costa, que respeito e admiro, desiludiu-me a deliberada ausência de qualquer referência à cultura. Falou de todos e decidiu ignorar a cultura. Sinceramente, teria preferido que o governo tivesse tomado medidas mais rigorosas, mas que não nos afrontasse e desrespeitasse falando de todos os sectores com excepção do da cultura. Ele achará que resolve o problema se o ignorar? Engana-se, só o torna pior.

Num momento em que a cultura se desmorona em Portugal, qual a força que o faz continuar a lutar e a criar?

As possibilidades que se nos apresentam são as de afundar ou nadar. Eu/nós escolhemos a segunda.

Luto por aquilo em que acredito. Luto pela minha equipa e por mim. Luto pela continuidade de uma vida dedicada à cultura. Luto porque não sei fazer outra coisa.

Voltando a este novo espectáculo, o que já nos pode desvendar dele ou pelo menos parte dele?

No “#CONECTADOS” tudo é novo e diferente. Nunca uma plateia pode interagir em tempo real com outra que se prolonga para lá das paredes do teatro, em que todos se vêm e ouvem uns aos outros. Espectadores do teatro vão interagir com que está em casa e vice-versa.

O digital está há muito nas nossas vidas. Neste espectáculo levamos o digital ao limite da conectividade, no sentido de que a magia aconteça no palco, na plateia e em casa daqueles que os espectadores presentes convidarem para participar remotamente. Até hologramas vamos ter… [sorri]

Depois de 25 anos de percurso e muitos espectáculos, o que terá este que não teve nenhum outro feito até agora?

Quase tudo! Os pressupostos e inspiração são drasticamente diferentes de tudo quanto até hoje vivemos. Por isso, bom ou mau, o resultado será igualmente distinto.

Em palco estará sozinho ou haverá mais alguém?

Sozinho, mas muito bem acompanhado por uma equipa extraordinária que não se vê, mas que faz acontecer. Eu serei os ponteiros de um relógio que dá as horas certas porque as engrenagens (a minha equipa, a da UAU e a do Tivoli BBVA) funcionam na perfeição.

Para os que não estarão no teatro, mas sim remotamente, como funcionará a participação no espectáculo? Existe alguma app?

Os espectadores com acessos virtuais poderão assistir e participar a partir de qualquer dispositivo com ligação à internet… smartphone, tablet ou computador.

Ao comprar bilhetes para #CONECTADOS terão, por cada dois, direito a um acesso virtual completamente gratuito para oferecer a familiares, amigos ou colegas de trabalho, permitindo-lhes que, a partir de qualquer parte do mundo, possam assistir e participar na mesma sessão a que assistirá presencialmente.

O procedimento é muito simples… basta enviar um email para o endereço info@luisdematosconectados.com indicando o email da pessoa que pretende convidar. Nada mais é necessário! Até 3 dias antes do espectáculo, a pessoa que convidou receberá no email indicado uma chave única e intransmissível que permitirá que todo o seu agregado familiar possa assistir a partir de uma ligação.

Calculo que seja um balanço pouco positivo, mas queria perguntar-lhe como analisa todo este 2020 e em que mesmo perante uma pandemia conseguiu realizar e produzir vários eventos no seu estúdio.

2020 está a acabar de ser um ano terrível em que tudo é posto em causa e em que as mazelas que deixa são irreparáveis. Um ano em que as nossas famílias ficam feridas para sempre com a perda de pessoas que vivemos a amar. A esse respeito nada pode ser dito de outra forma.

A nível científico, tecnológico e artístico sempre nos dizem que para atingirmos nossos limites precisamos de sair da nossa zona de conforto… 2020 fez isso e de que maneira!

Sofrimento e perdas irreparáveis à parte, 2020 terá representado uma aceleração inacreditável em sectores como os que referi.

A mim tem-me salvo, pelo menos até agora, o prazer de criar com a minha equipa. Mantermo-nos ocupados e criativos tem sido a grande salvação do abismo. Graças a isso julgo ainda não ter perdido a minha sanidade mental… ou se calhar já perdi… não sei bem… [sorri]

O espectáculo #CONECTADOS é o claro exemplo do abraçar das contigências transformando-as em oportunidades criativas. Jamais teríamos criado um conceito tão original e surpreendente se não fosse todo o pesadelo por que estamos a passar.

Apelando ao seu extraordinário poder de argumentação, deixo o desafio de tornar este evento irresistível ao público…

Oferecer cultura é a melhor opção. A maior parte das prendas que damos e recebemos no Natal acabam por perder-se, estragar-se ou ser esquecidas. Ao oferecer experiências, como bilhetes para espectáculos, a pessoa que recebe jamais esquecerá.

Gostava que viessem assistir ao #CONECTADOS porque depois de 9 meses de jejum é importante que as famílias assistam a espectáculos e experienciem cultura ao vivo, sem ser através de um ecrã de computador ou televisão. Porque #aculturaésegura e nenhum serviço noticioso até hoje noticiou nenhuma cadeia de contágio que tenha tido origem numa sala de espectáculos. Porque a minha equipa e eu preparámos com muito amor e empenho aquele que será provavelmente o nosso melhor espectáculo de sempre.

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