Nininho Vaz Maia: Um Sonho Realizado na MEO Arena com lotação esgotada na primeira de duas datas do artista.
Na noite de 15 de março de 2025, Nininho Vaz Maia entrou para a história ao estrear-se na maior sala de espetáculos do país. A MEO Arena, repleta de um público fervoroso, foi o palco onde o artista cigano, aos 37 anos, celebrou um percurso marcado pela autenticidade, resiliência e paixão pela música.
“Ainda penso que estou no sonho“, confessou, perante milhares de vozes que entoavam as suas canções. “Não, vocês não sabem o quanto eu estou grato a cada um de vocês. Como eu costumo dizer, hoje somos um só. Vamos esquecer tudo e divertirmo-nos ao máximo junto dos que mais amamos.” Palavras que, mais do que um agradecimento, eram um compromisso.
Lotação Esgotada na MEO Arena para ver e ouvir Nininho
A noite abriu em tom vibrante, com “Bebé” e “Bailando” a instalarem de imediato a energia contagiante que o público esperava. O alinhamento, repleto de sucessos e temas que marcaram o percurso do cantor, desenrolou-se com um misto de êxtase e emoção. “Metamorfose” e “Estou Chateado” mostraram o lado mais visceral da sua música, enquanto “Teus Beijos” e “Suena Que Suena” trouxeram a envolvência sensual e festiva que caracteriza o seu registo.
Mas se o concerto foi uma celebração, nem todos os momentos tiveram igual impacto. A sucessão de temas, por vezes, pareceu mais focada na quantidade do que na narrativa, com mudanças abruptas entre diferentes registos que retiraram fluidez ao espetáculo. Ainda assim, foi impossível ignorar o peso simbólico de algumas escolhas, como “Onde Nasci”, interpretada com um sentimento profundo, relembrando as raízes e o percurso do artista.

Os convidados especiais
A primeira grande surpresa da noite surgiu com “Despertar”, onde Nininho recebeu as jovens Vitória e Alicia, do The Voice Kids, numa interpretação delicada e inspiradora. O simbolismo prolongou-se com a entrada de Ângelo Freire, cuja guitarra portuguesa se juntou a “Noiva” e “A Mi Manera”, criando um momento entre o amor, a poesia e a boémia, numa comunhão perfeita entre as cordas e a voz do anfitrião. Foi um dos pontos altos do espetáculo, onde o fado e a alma cigana se entrelaçaram numa fusão sublime.
Num gesto que foi além da música, Nininho recriou a cena que o tornou viral nos primórdios da sua carreira, quando, em prisão domiciliária, cantou para o mundo. Mas desta vez, o contexto era outro: do isolamento forçado ao palco maior do país, o percurso do cantor tornou-se um testemunho de superação. “Se daqui consigo inspirar alguém, quero que a minha história sirva de exemplo. Todos temos a hipótese de recomeçar.” E o público soube reconhecer esse percurso, aplaudindo a mensagem que transcendeu a música.
O sonho foi Real, Nininho pode sonhar ainda mais alto
Outro momento de impacto deu-se com a presença do sobrinho Ruben Vaz Maia (GNR) e do irmão Mário Vaz Maia (PSP), que subiram ao palco para reforçar uma mensagem de união e superação. Um gesto que não passou despercebido e que vincou a importância da família no trajeto do cantor.
Mas a emoção atingiu o seu auge quando Nininho trouxe ao palco os seus três filhos e a sua avó, em dois momentos de ternura e significado profundo. O público assistiu, comovido, àquele encontro familiar sob as luzes do maior palco do país, onde a música se tornou um elo entre gerações. Os olhos marejados de lágrimas, os sorrisos genuínos e os abraços apertados foram a prova viva de que, mais do que um espetáculo, aquela noite foi a consagração de uma vida. A avó emocionada aos 88 anos, os filhos que olhavam com admiração o pai e o público que aplaudia em uníssono tornaram aquele instante intemporal.
A reta final trouxe o êxtase de “Pégate a Mi”, “Soy Gitano” e “Quiero Bailar”, incendiando a plateia num último assomo de festa. O espetáculo encerrou com “Calón”, um tributo às suas origens e identidade.
“Hoje não senti medo ao entrar na MEO Arena. Preparei-me e fiz de tudo para que tivessem um grande espetáculo. Espero, do fundo do coração, que estejam a gostar”, disse, em tom sincero.
A história é bonita, aguardam-se novos capítulos
Nininho Vaz Maia fez história nesta noite, consolidando-se como uma das grandes vozes da atualidade. Mas se a sua presença em palco foi inegável, a estrutura do espetáculo poderia ter servido melhor a grandiosidade do momento, permitindo-lhe criar uma viagem mais envolvente.
No entanto, foi impossível não sentir a verdade nas suas palavras: “Tenho de vos agradecer a vocês. Ao meu país. Não há muito tempo atrás, recebíamos melhor os artistas de fora do que os nossos. Hoje, em dia, tenho muito orgulho, meu país, por receber primeiro os nossos que os de fora. Nas mesmas salas, com igual qualidade ou melhor.“
A MEO Arena ouviu. O público respondeu. E Nininho, esse, cantou como se fosse a última vez, provando que o sonho, afinal, era bem real.
Entre os músicos que o acompanharam, merece destaque especial o guitarrista Popinho Navarro, cuja mestria nas cordas se fez sentir ao longo de todo o espetáculo. Com um carisma inconfundível e uma postura imaculada em palco, Navarro imprimiu uma energia única a cada tema, elevando o som de Nininho para patamares de excelência. A sua guitarra, ora melancólica, ora vibrante, foi um fio condutor essencial na narrativa musical da noite, provando que a cumplicidade entre artista e instrumentista é, muitas vezes, o segredo para momentos verdadeiramente inesquecíveis.
Texto: Rui Lavrador / Fotografias: Diogo Nora
