
O Campo Pequeno encerrou, na passada quinta-feira, a sua temporada tauromáquica com a a Corrida de Gala à Antiga Portuguesa, perante lotação esgotada. Rui Bento Vasques, director de actividades tauromáquicas do Campo Pequeno, concedeu entrevista de balanço da temporada na qual aborda vários temas.
O director de actividades tauromáquicas do Campo Pequeno começa por nos revelar que “artisticamente” é “uma temporada com balanço muito positivo, em todos os aspectos inerentes ao espectáculo tauromáquico. Cavaleiros que se afirmaram e se confirmaram, matadores de toiros que deram a cara, forcados com a valentia de sempre e grandes triunfos ganadeiros, tal como a confirmação de jovens bandarilheiros”.
Já sobre a vertente financeira, e teria sido rentável, foi claro ao afirmar que “o espectáculo tauromáquico tem uma margem bruta muito pequena. Foi uma temporada sempre no “fio da navalha”.
Sendo que a última corrida da temporada, no Campo Pequeno, significou também a primeira lotação esgotada, Rui Bento Vasques, confessou-nos que “a corrida de gala foi, efectivamente, um terminar da temporada em beleza ou em triunfo, como queira. O sonho de qualquer empresário é colocar sempre a faixa de “Lotação esgotada”, mas nem sempre é possível. Daí haver que aceitar as coisas tal e qual elas são: umas vezes esgota-se a lotação, outras vezes pensamos que vamos esgotar…e não conseguimos”.
Na nossa opinião faltou o público não aficionado aderir às corridas, visto que os aficionados foram. Daí, questionámos se a comunicação não teria sido demasiado segmentada para os aficionados, esquecendo o público em geral. Para Rui Bento Vasques, “como sempre, veio o aficionado e o grande público, digamos, o público apenas entusiasta. A comunicação foi feita com base nas qualidades dos artistas e ganadarias que integram os cartéis. Não fazemos uma promoção de exclusão, mas uma promoção de inclusão”.
Preferiu não destacar a corrida que mais lhe agradou e a que menos agradou, pois “prefiro analisar a temporada como um todo e, sinceramente, acho que foi uma temporada positiva no conjunto”.
Uma das corridas mais polémicas do abono lisboeta foi em Agosto e juntou em cartel três matadores nacionais. Questionado se voltaria a apostar neste cartel, explicou que “como Aficionado, como Matador de Toiros (que sempre serei), desejaria ver mais corridas com três matadores e, de preferência, com três matadores portugueses que ocupassem a primeira linha no concerto dos matadores de toiros a nível mundial. Como empresário e no actual momento que o toureio a pé vive em Portugal, teria de ser sempre uma decisão muito, mas muito ponderada. Mas não quero deixar de sublinhar que apesar de não ter resultado do ponto de vista financeiro, a corrida que promovemos a 23 de Agosto, deixou-me muito satisfeito sob o ponto de vista artístico, pela entrega de cada um dos toureiros e pela seriedade dos toiros lidados”.
Na apresentação deste cartel, disse que existiram cavaleiros a recusar participar. Rui Bento Vasques apodera três cavaleiros (Luís Rouxinol, João Moura Jr. e Luís Rouxinol Jr.). Será que em algum momento existiu hipótese destes integrar o cartel? “Nessa data, os três cavaleiros que represento, já tinham toureado no Campo Pequeno e estavam anunciados para outras corridas nesta praça, pelo que não tinha lógica anunciá-los nessa corrida. Por outro lado, eu referia-me a cavaleiros que ainda não tinham sido anunciados na temporada de Lisboa”.
Sobre a ausência de Ventura, a qual justificou por motivos financeiros, disse que “já expliquei exaustivamente as razões de Diego Ventura não ter integrado os cartéis do Campo Pequeno. Por isso, o melhor será o Rui esclarecer essa questão directamente com ele”, quando questionado se não seria estranho para o aficionado ver o rejoneador em praças de segunda categoria mas não no Campo Pequeno e se existiria indisponibilidade do Campo Pequeno em pagar os valores que Ventura recebe nas outras praças.
Ventura que voltou a ser tema quando questionámos se existia algum cavaleiro que lamentasse não ter estado nesta temporada. “Naturalmente que Diego Ventura, mas não foi possível pelas razões que expliquei, por mais de uma vez, ao longo da temporada”.
Uma das reclamações dos aficionados é o reduzido número de transmissões televisivas, e quando questionado sobre o que podia ser feito para alterar essa situação, Rui Bento Vasques revelou que “não está na nossa mão determinar o número de transmissões televisivas de corridas de toiros. É um assunto da esfera de cada uma das estações de TV. Da nossa parte há inteira abertura para que mais transmissões se realizem, pois entendemos que cada transmissão tem sido sempre uma boa aposta quer para as empresas, que para os canais de TV.”
Em termos artísticos existiram apenas três toureiros espanhóis a integrar a temporada lisboeta (Pablo Hermoso de Mendoza, Guillermo Hermoso de Mendoza e Cayetano Rivera Ordoñez). Sobre se esta opção foi sua ou motivada por critérios financeiros, assumiu que “este ano demos menos duas corridas que na temporada passada, pelo que essa opção também teve reflexo no momento de fazer os cartéis. Acresce que tendo cavaleiros e matadores portugueses de categoria, optámos por trazer de Espanha apenas estes nomes”.
O Campo Pequeno está em processo de venda, é público, e sobre o futuro desta praça de touros, Rui Bento Vasques diz que “o Campo Pequeno é indissociável do espectáculo tauromáquico. Qualquer promotor de espectáculos o sabe; qualquer pessoa inteligente o entende…No momento em que realizamos esta entrevista, não há informação disponível que permita avançar com “análises futurológicas”.
E manter-se-á como gestor taurino, independentemente do que venha a ser decidido? “Isso, como calcula, não depende só de mim…”
Assume ainda que “o programa que estabelecemos no início da temporada concretizou-se plenamente” e que, agora, “como muito bem disse, o momento é de balanço e descanso. Ainda há menos de uma semana que terminámos a temporada….tempo há…”
Texto e Entrevista: Rui Lavrador
Fotografia: Toureio.pt