OneRepublic trouxeram tempestade musical de qualidade e emoção à MEO Arena no Parque das Nações, em que a trovoada entoou “Love Runs Out”, “I Lived”, e outros clássicos.
Texto: André Nunes
Fotografias: Diogo Nora
Expectativa e ambiente antes do concerto
A expectativa estava alta, e até a famosa Cláudia foi obrigada a fazer uma vénia a uma banda que “veio com tudo” e “mostrou quem manda” em Lisboa. A capital tornou-se o epicentro musical europeu nesta noite chuvosa, em que não faltou música que parecia sol e luz.
Com fãs entusiasmados muito antes do concerto, estava marcado um espetáculo que ninguém queria perder — fossem admiradores da banda ou apenas amantes de música ao vivo.
OneRepublic, reconhecidos pela capacidade de motivar e de usar melodias e letras para extrair o melhor de cada um, não deixaram ninguém indiferente, mesmo num ano repleto de grandes espetáculos internacionais, como Tate McRae, Shawn Mendes, Olivia Rodrigo, Post Malone, Jelly Roll ou The Lumineers. A banda mostrou porque não é apenas “mais uma” numa agenda nacional recheada de nomes aclamados pela crítica.
Início da festa: “Feel Again”, “Kids” e “Good Life”
“Feel Again”, “Kids” e “Good Life” deram início à festa, com Ryan Tedder a saudar: “Lisboa, como estás?”
E continuou:
“Eu precisava de um dia como o de hoje nesta cidade bonita. Esta tem sido a melhor digressão que fizemos na Europa, e é a primeira vez que vimos o sol em 22 dias.”
O significado renovado de “Kids”
“Kids”, dos OneRepublic, tornou-se quase um grito de guerra durante a pandemia — um desejo coletivo de voltar atrás, de recuperar o tempo suspenso, de regressar à leveza que nos foi roubada.
A música fala daquela nostalgia luminosa da juventude, da liberdade de correr sem medo, de viver sem pensar no amanhã. E, num período em que o mundo inteiro ficou parado, “Kids” ganhou um significado novo: não era só sobre recordar o passado, era sobre querer reencontrar a vida como ela era, recuperar a rua, os abraços, o riso fácil.
Soou como um lembrete de que ainda havia algo para recuperar — a sensação de sermos jovens outra vez, nem que fosse apenas no espírito.
“Secrets”, “Stop and Stare” e “Life in Color”
Os violinos de “Secrets” arrancaram gritos do público, ansioso para ouvir o tema, que foi entoado em uníssono.
Seguiram-se momentos marcantes com “Stop and Stare” e “Life in Color”. Aliás, antes de “Life in Color”, o vocalista fez a seguinte introdução:
“A Europa tem muitas cidades bonitas. É obviamente muito mais antiga do que a América. E vocês têm uma cultura que remonta a milhares de anos.
E o que eu acho fascinante em Portugal é a cor. Há tanta cor aqui.
E penso que esta próxima música — mais do que em qualquer outro lugar onde estivemos — é nesta cidade e neste país que esta letra realmente faz sentido.
Sinto que, se vivem aqui, honestamente, vivem a vida em cor.
E isso só agora me ocorreu. É perfeito.
Isto é ‘Life in Color’.”
Craques da música e “da bola”
A meio do concerto, Ryan explica o seu amor pelo futebol e acaba por pontapear três bolas oficiais da seleção portuguesa para o público, com grande ovação:
“Na verdade, eu e o Zach, que era o guitarrista na altura, conhecemo-nos no campo de futebol, no secundário. E eu pensei: isto é perfeito, por isso assinámos estes, e aqui vai a situação. Isto custava 20 euros e agora custa 25 euros. Exactamente. Por isso trouxe três destes, só para verem.
Esta parte do espectáculo não tem nada a ver com música e tem tudo a ver comigo.
Vou atirar uma bola de futebol. Vamos a isso. Obrigado.”
Momento Karaoke em Lisboa
Num segmento descontraído, Ryan Tedder brincou com o público:
“Não consigo cantar todas estas músicas, por isso, se conhecerem, cantem comigo. Esta primeira canção pagou todas as dívidas que tinha devido a um único erro — e isso é totalmente treta.”
Entre referências bem-dispostas — incluindo Beyoncé — o vocalista brincou ainda com o passado pré-redes sociais: “Ela quis uma musica romântica e disse que estava apaixonada pelo Jay-Z. Naquela altura não havia TikTok e a internet não sabia nada. Tinham de perceber tudo sozinhos, como numa mercearia.”
Cantou ainda temas de outros artistas, como Kygo, que ele próprio escreveu. Partimos depois para “Love Runs Out” e “I Lived”.
“Love Runs Out”
“Love Runs Out”, dos OneRepublic, tem uma qualidade quase mitológica: é uma canção construída como um grito que corre contra o tempo, uma marcha que não abranda, um coração que insiste mesmo quando o mundo parece ficar sem fôlego.
O tema foi usado na promo package de homenagem à carreira do lutador Kurt Angle —na forma como dramatiza o limite. Não o limite como fracasso, mas como ponto de explosão, aquele instante em que tudo o que fomos se concentra num só momento.
É uma faixa que pulsa com urgência, como se cada batida dissesse:
“Até ao último segundo, vou lutar. Até ao último centímetro, vou avançar.”
A carreira de Kurt Angle sempre pareceu movida por um amor incansável pelo wrestling — um amor que o fez superar dores, limites e expectativas, desde o ouro olímpico conquistado com o pescoço fraturado até aos momentos mais intensos da sua vida no ringue.
É por isso que “Love Runs Out” encaixa tão bem na sua história: a música carrega a urgência de quem dá tudo até ao último segundo, a força de quem não abranda enquanto ainda houver algo dentro de si. Tal como Angle, a canção corre contra o tempo, transformando cada batida num ato de resistência e paixão.
“I Lived”
“I Lived”, dos OneRepublic, encaixou-se no trailer do final de “Modern Family” porque é uma canção que celebra exatamente aquilo que a série sempre mostrou: a vida vivida em toda a sua imperfeição — os erros, as alegrias, as quedas, os abraços, o caos, o amor.
A letra é um agradecimento ao caminho, não por ter sido fácil, mas por ter sido inteiro. É sobre olhar para trás e reconhecer que cada experiência, mesmo a mais difícil, valeu por nos ter moldado.
“Modern Family” fecha com essa música porque a série é isso mesmo: um retrato de tudo o que se atravessa numa vida em família — crescer, falhar, rir, aprender, deixar ir e começar de novo.
“I Lived” funciona como a última frase perfeita: que cada personagem, como cada espectador, tenha realmente vivido tudo o que podia viver.
Vivemos as histórias que nos tornaram quem somos, e é isso que “I Lived” eterniza no final: não a perfeição do caminho, mas a beleza de termos passado por ele.
“Counting Stars” foi o hino em dia de tempestade
O clássico “Counting Stars” começou em versão acústica, apenas com guitarra, mas todos sabiam onde a viagem iria terminar: num momento explosivo com “Counting Stars”, que levou o MEO Arena a cantar e a saltar, numa verdadeira constelação humana.
OneRepublic como catarse
Antes dos temas finais mais conhecidos, a banda deixou passar um vídeo em que fãs de diversas origens expressam o seu amor pela banda e como foi uma “tábua de salvação” em momentos depressivos. Deixamos aqui, para terminar, alguns destes testemunhos:
- “Se alguma vez me viram, foi num concerto de OneRepublic. A vossa música sempre falou comigo. É uma música que nos une. Incrível. Obrigado.
- Se são maravilhosos, onde é que sentem isso? O que significa serem maravilhosos? E eu vou amar-vos para sempre.
- Com o que tenho de mais profundo no meu coração, quero dizer obrigado a OneRepublic. Obrigado por terem vindo esta noite.
- Aprendi uma série de novas lições de vida. Adoro-vos. Obrigado, OneRepublic. São os melhores. Obrigado por tocarem.
- OneRepublic não é apenas uma banda para mim. Foram a minha tábua de salvação.
Nos momentos em que o desgosto me deixou entorpecido e a depressão me fez sentir invisível, as músicas deles tornaram-se a voz que eu não tinha. - Lembraram-me de que a dor não é permanente, que eu ainda estava aqui — a respirar, a sentir, a ter esperança.
- A música deles não falou apenas comigo, salvou-me. E por isso, devo-lhes mais do que as palavras alguma vez poderão exprimir.”
Setlist de OneRepublic no MEO Arena
- Feel Again
- Kids
- Good Life
- RUNAWAY
- Singapore
- Secrets
- Rescue Me
- Run
- Artificial Paradise
- Stop and Stare
- Artificial Paradise
- Life in Color
- Something I Need
- Halo (cover de Beyoncé)
- Bleeding Love (cover de Leona Lewis)
- Lose Somebody (cover de Kygo)
- Apologize
- Can’t Stop
- I Need Your Love
- Let’s Hurt Tonight
- Sunshine
- I Ain’t Worried
- Love Runs Out
- I Lived
- Zach Guitar Solo
- Counting Stars
- I Don’t Wanna Wait / Calling (Lose My Mind) / If I Lose Myself




