Ricardo Ribeiro: Fado, Alentejo e Mediterrâneo em noite supimpa no Tivoli, em Lisboa, nesta segunda-feira, 14 de Outubro.
Fotografias: Carlos Pedroso
O Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, acolheu, esta segunda-feira – 14 de Outubro, um espectáculo de Ricardo Ribeiro, intitulado “Fados e Modas do Sul”.
Em palco, contou também com a presença do grupo coral alentejano “Os Ganhões” de Castro Verde.
Além do seu repertório fadista, Ricardo Ribeiro prestou assim homenagem ao Cante Alentejano, elevado a Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas em 2014.
Recorde-se que apesar de ser lisboeta, nascido no bairro da Ajuda, Ricardo Ribeiro sempre demonstrou uma grande paixão pelo Alentejo.
Nesse sentido, destacar que actualmente o fadista mora em Cabrela, pertencente a Montemor-o-Novo, em pleno Alentejo.
Primeira destacar que a lotação da sala lisboeta esteve muito próxima de esgotar, o que a uma segunda-feira é assinalável, num sendo um dia ‘tradicional’ para espectáculos.
Ademais, há pouco mais de 15 dias, Ricardo Ribeiro havia actuado em Lisboa, como cabeça de cartaz no segundo dia do Caixa Alfama.
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Contudo, para o Tivoli o foco eram (e foram) ‘fados e modas do sul’, dando assim palco a duas das várias ramificações musicais de Ricardo Ribeiro.
Sozinho em palco, abriu o espectáculo com ‘Lírio Roxo’, começando nesse preciso momento a conquistar o público.
O fadista, nesta primeira abordagem musical em que esteve a solo em palco, prosseguiu para ‘Valsa da Libertação’ (música de Ricardo Ribeiro e versos de Pedro Homem de Melo), a declamação do poema ‘Entre o Deserto e o Deserto’ de António Ramos Rosa, Alza tus brazos (Juan Gelman, com música de Fernando Tordo) e Moda do Adeus (uma moda popular e que conta com versos de Manuel Alegre), com a parte instrumental a ser a sua viola.
É raro o artista tocar em público, ele próprio o assumiu, explicando que “estou a tremer um bocadinho, mas isto já passa“, por isso “estou aflito para tocar, mas já vou tocar“, reforçando que “é muito raro eu tocar em público, mas quis fazer um espectáculo diferente para vocês“.
O artista lisboeta que privilegia a cultura do Mediterrâneo e disso deu conta, passou depois a estar acompanhado pelo seu trio triunfal em palco, com José Manuel Neto na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença na viola de fado e Daniel Pinto na viola baixo.
Fruto da sua permanente fome de conhecimento, Ricardo Ribeiro é – como o próprio se intitulou – um rato de biblioteca e demonstra um insaciável interesse pelas coisas antigas, que considera poderem ser renovadas e valorizadas.
Por esse mesmo motivo, não gosta que se use a palavra inovação aplicada à tradição, como é o fado, porque considera que nem sempre se muda para melhor.
Brincou com o facto de lhe atribuírem diversos adjectos, exemplificando: “Dizem que eu sou cigano e eu fico muito feliz com isso. Já que tenho a fama, agora vou ter o proveito”, afirmou.
Porém, cantou ‘Senhora do Almortão’ (apenas com Carlos Manuel Proença na viola a acompanhar) e depois disse que foi mais árabe e judeu do que cigano na interpretação.
Ou seja, as suas influências e ramificações musicais são tantas, que torna-se um artista complicado de descrever, porém prazeroso de descobrir, quer no pensamento quer no canto
Na fase mais fadista do concerto, destaque para ‘Prédio em Ruina’ de Fernanda Maria, ‘Entrega’ com versos de Pedro Homem de Melo, além do Fado Cravo.
O seu trio de instrumentistas brilhou ainda mais na guitarrada, havendo a destacar que neste espectáculo José Manuel Neto esteve assombroso em noite memorável e apenas ao alcance dos melhores, Carlos Manuel Proença é dono de uma particular sensibilidade e demonstrou-a novamente, bem secundado por Daniel Pinto.
Os Ganhões de Castro Verde ganharam depois protagonismo em palco, primeiro cantando a solo, depois com a presença de Ricardo Ribeiro, com o ‘Fadinho Alentejano’ a soltar garalhadas no público e a permitir ver um Ricardo Ribeiro a imitar algumas vozes da cena fadista (com inteligência e destacando que só iria imitar aqueles que gosta de ouvir).
Para o fim do espectáculo destacar ‘Tirai os olhos de mim’ e as ‘Mondadeiras’ como os momentos mais impactantes.
O público tributou forte ovação a Ricardo Ribeiro – além dos instrumentistas e dos Ganhões – numa noite em que o lisboeta que se apaixonou pelo Alentejo, demonstrou que é um homem do mundo e que no seu coração cabem inúmeras influências que ele depois mistura numa musicalidade apenas sua.
Referir ainda o trabalho de Pedro Leston Martins na iluminação, Rui Guerreiro no som de frente e Jorge Jorge no som de palco.