
Vítor Mendes: “Espero que o Juanito vá longe e seja aquela figura do toureio a pé que necessitamos”, disse o consagrado matador de touros, em declarações ao Infocul.pt.
O matador de touros Vítor Mendes celebra 40 anos de alternativa e será homenageado na Praça de Touros do Campo Pequeno, a 16 de Julho.
Nessa noite, ocorrerá uma corrida de touros com o cartel a ser composto pelos matadores Finito de Córdoba, José Garrido, Manuel Dias Gomes e Juanito frente a touros das ganadarias Nuñez de Tarifa e Voltalegre.
Sobre esta corrida de homenagem, à qual assistirá, disse que “vou olhar com uma inveja saudável, porque é recuar 40 anos num sonho de um português, que queria dar continuação à história do toureio a pé em Portugal“.
“Foi ali numa altura de ligação, em que fui para Barcelona na altura da morte do matador José Falcão. Havia um significado sentimental, por um lado, e profissional porque eu tinha sido o triunfador da temporada ao nível dos novilheiros com picadores, na Monumental de Barcelona, e depois o extraordinário cartel com que tirei alternativa, com Palomo Liñares e José Maria Manzanares [Pai], os dois que em paz descansem, porque eram duas extraordinárias figuras“, destacou.
“No próximo dia 16 de Julho, no Campo Pequeno, é recordar todos esses momentos e memórias que nos vem à lembrança. Foram 18 temporadas, 1148 corridas de touros, foram uns 3 mil touros estoqueados, foi uma época de transição extraordinária. Foi uma altura em que houve um abanico extraordinário, com figuras do toureio extraordinárias. Foi o nunca sonhado, ou melhor, o sonhado, mas que estava muito longe e aconteceu“, disse ainda.
Vítor Mendes foi, provavelmente e dito por muitos, a última grande figura do toureio a pé em Portugal.
Sendo ele um toureiro de risco e com um público feminino muito fiel, questionámos se a estagnação do toureio a pé em Portugal se devia à falta de toureiros de risco ou de toureiros bonitos.
Vítor Mendes vacilou, riu e respondeu: “Olha…deixas-me sem palavras… Mas eu penso que uma coisa pode estar ligada à outra. Se não te arrimares ao touro, se não tiveres essa capacidade e talento para seres atrativo – além do que possas transmitir pela paixão, pelo risco, pela entrega- dificilmente chegas a figura. O toureiro é um actor que no palco arrisca a pela, mas como actor que é deve também ser amplio no sentido da admiração, porque não dizer, do público feminino também”.
Vítor Mendes integra a equipa de apoderamento do matador João Silva ‘Juanito’, que a 24 de Junho toureia em Badajoz, ao lado de Ferrera e Morante e perante touros da ganadaria Zalduendo.
Sobre a presença de Juanito em cartéis de categoria e ao lado das figuras maiores de Espanha, Vítor Mendes [que tantas vezes triunfou em Espanha] disse: “Nós não somos donos, propriamente, do destino. Marcamos o destino no sentido da preparação e da mentalização, tirando prática do talento que temos. Parece fácil dizê-lo, mas não cai do céu. Podemos ter talento e óptimas qualidades mas temos de os trabalhar, com muita dedicação, fé, com muita premeditação de organização e preparação para quando surgem as oportunidades, ser atrativo e ser comercial. Porque isto, ao fim e ao cabo, também joga com isso“.
Assim, “o Juanito é [talento que reúne condições para ser figura além-fronteiras], lamento afirmá-lo assim e porque gostaria de ver outros matadores de touros além-fronteiras, e além fronteiras significa algo muito, muito mais sério. O touro é integro, a pátria do toureio é Espanha, o nível é muitíssimo mais alto e teres ao lado figuras do toureio que são consagradas e líderes de escalafón, é sempre um risco. Tens de ser capaz de superar essa fronteira, chegar lá e dizeres “eu sou capaz de me colocar ao vosso nível”. Espanha é muito senhora do seu nariz, este cartel é fortíssimo e estão reunidas as condições de dar um passo mais, subir um degrau na categoria. Ele vai fazer temporada em Espanha e eventualmente na América e em França“.
“Espero que o Juanito vá longe e seja aquela figura do toureio a pé que necessitamos“, rematou.