Buba Espinho no Coliseu de Lisboa: O Canto Eterno do Alentejo brotou emoções infinitas nas gentes que encheram a mítica sala.
Texto: Rui Lavrador / Fotografias: Nuno Almeida e João Silva
Na tarde de sábado, 8 de março, Lisboa rendeu-se à alma imensa do Alentejo, transportada pela voz de Buba Espinho, que fez do Coliseu dos Recreios um altar de emoção, memória e identidade.
Assim, no primeiro de dois concertos deste dia (a que se juntam dois em Janeiro, assistiu-se a espectáculo de uma intensidade ímpar.
Tamanha riqueza tem o Alentejo
Nesse sentido, o artista evocou as paisagens infinitas da planície, o calor das vozes corais e a verdade nua do cante alentejano, numa celebração arrebatadora da sua terra e das suas raízes.
Desde os primeiros acordes de “Afã”, a comunhão entre artista e público foi total, num espetáculo onde cada tema era uma carta de amor ao Alentejo.
“Jardim Paraíso” e “Digo que Devo Continuar” trouxeram o lirismo e a introspeção que marcam a trajetória do músico, enquanto “Menina Estás à Janela” reacendeu a tradição numa leitura de profunda doçura.
Os momentos de partilha multiplicaram-se ao longo da noite, com convidados que enriqueceram a atmosfera única deste concerto.
Primeiramente, Ricardo Maia juntou-se a Buba Espinho para “Roubei-te um Beijo”, trazendo cumplicidade e encanto. Com os Bandidos do Cante, a fusão da tradição com a contemporaneidade ganhou novas nuances em “Já Não Há Pardais no Céu” e, ao lado do Grupo Coral Infantil de Ourique, “Um Dia Hei-de Voltar” tornou-se um hino à saudade e ao regresso às origens. Bárbara Tinoco emprestou a sua delicadeza a “Gotinha de Água” e “Ao Teu Ouvido”, enquanto João Domingos, na viola de fado, trouxe a nobreza fadista a “Zé de Alfama” e “Fado Loucura”.
Além disso, a tarde foi ainda abrilhantada pela presença vibrante dos D.A.M.A., que imprimiram uma energia contagiante a “É o Que É” e “Casa”, mostrando como a música, nas suas múltiplas formas, pode unir gerações e linguagens distintas.
A beleza grandiosa da simplicidade
Já em “O Verão, Alentejo e os Homens”, “Não É Tarde Nem É Cedo” e “Os Guardas”, Buba Espinho reafirmou-se como um cronista das vivências alentejanas, trazendo para o palco histórias de trabalho, amor e resistência. Cada canção foi uma narrativa construída com a verdade de quem carrega no peito o peso das tradições, mas também o ímpeto da renovação.
No momento mais solene e arrebatador da noite, as vozes femininas do Grupo Coral Cantadeiras Essência Alentejana deram corpo e alma a “Rosa Branca Desmaiada”, numa interpretação de uma beleza avassaladora, rompendo pelo meio do público e distribuindo rosas. O Coliseu, já rendido à força do cante, preparava-se para o clímax da noite.
“É Tão Grande o Alentejo” uniu todas as vozes presentes, num abraço sonoro que atravessou gerações e ressoou como um cântico de resistência e pertença. O Alentejo, com as suas gentes, os seus campos dourados e os seus silêncios eternos, ganhou vida nesta tarde, provando que, mesmo longe da planície, o cante continua a ser o elo que mantém viva a memória coletiva.
A noite teve como alicerce um elenco instrumental de exceção: Guilherme Melo na bateria, Rodrigo Correia no contrabaixo, Francisco Pestana nas vozes, Luís Aleixo na guitarra e vozes, Bruno Chaveiro na guitarra portuguesa e vozes e António Andrade Santos na voz e teclas.
Juntos, construíram uma tapeçaria sonora onde tradição e inovação coexistem, tal como na essência da música de Buba Espinho.
4 coliseus cheios: a Missão foi bem cumprida
Cada acorde, cada dedilhado, cada harmonia vocal desenhou paisagens sonoras que transportaram o público para as ruas brancas das aldeias alentejanas, para os montados onde ressoam as vozes do passado, para as tabernas onde a música se entranha na alma como o aroma do vinho novo cuja alma é sempre antiga.
Este concerto foi mais do que um espetáculo; foi uma afirmação de identidade, um tributo à alma do Alentejo e à herança cultural de um povo que canta as suas dores e alegrias.
Por isso, a música de Buba Espinho é uma ponte entre o ontem e o amanhã, entre a tradição e a modernidade, entre o peso da memória e a leveza da renovação.
Ou seja, no Coliseu dos Recreios, não foi apenas uma voz que ecoou, mas sim a voz de uma terra inteira, eterna e infinita, que encontra no canto a sua mais pura forma de existir.
Por fim, mas de maior importância, cada espectador que encheu a sala levou consigo um pedaço do Alentejo, e a certeza de que, enquanto houver quem cante, nunca se perderá a alma de um povo.
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Assim, na 3ª vez de Buba Espinho no Coliseu de Lisboa: O Canto Eterno do Alentejo fez-se sentir e emocionar!