Do drone ao cavalo e touro: um segundo dia da Ovibeja cheio de campo e festa, onde foi novamente confirmado o papel da feira como espaço de encontro entre tradição e modernidade, e entre familiares e amigos que não se vêm há muito tempo e escoam a sua saudade no certame. Com grande destaque para a caça, a inovação agrícola e, em particular, para a valorização da arte equestre e do cavalo Lusitano.
Texto: André Nunes / Fotografias: João Silva
Para começar, uma conferência sobre Caça e Natureza
Primeiramente, o Auditório Expobeja recebeu a conferência “Caça em Portugal – Fragilidades, Estrangulamentos e Alternativas”, organizada pelo Clube Português de Monteiros e pela Federação Alentejana de Caçadores. O painel contou com intervenções de Nuno Vacas, João Acabado, Ricardo Estrela e Rui Correia, que refletiram sobre os principais desafios do setor, desde a perda de biodiversidade até à necessidade de um novo enquadramento legal e educativo para que seja percetível que a caça é fundamental para preservação das espécies e saúde dos diversos ecossistemas e habitats.
Os especialistas defenderam a caça como uma prática com valor ambiental, cultural e económico, desde que realizada de forma responsável e sustentável, até porque a caça também é arte e também é campo melancólico que dó na alma ao saber o quanto os nossos avós a adoravam e ansiavam.
A Arte Equestre e os cavalos portugueses nos planaltos da memória coletiva
Ao longo do dia, a Arte Equestre foi um dos grandes destaques da feira. No Picadeiro D. Diogo Sobral decorreram provas e concursos de modelo e andamentos com exemplares das raças Puro Sangue Lusitano, Puro Sangue Árabe, Anglo-Árabe e Luso-Árabe, além do Concurso Regional de Dressage. Estes momentos mostraram bem como a equitação tem vindo a ganhar destaque no meio rural português, afirmando cada vez mais o cavalo Lusitano como símbolo da nossa identidade e do que fazemos bem.
Sendo uma das raças mais antigas que existem, o Lusitano continua a impressionar pela sua elegância, capacidade de adaptação e o carácter dócil que o torna único. É um cavalo que brilha tanto em provas desportivas como em eventos culturais e turísticos — e a sua presença na Ovibeja é disso um reflexo. Mais do que tradição, o setor representa hoje uma atividade económica relevante, com muitos criadores envolvidos e uma procura crescente lá fora.
Os próximos cavaleiros a cavalgar até ao sucesso da aventura
A promoção destas provas contribui para a preservação da tradição equestre portuguesa e para o incentivo à formação de novos cavaleiros que poderão ver a sua vida transformada através da paixão com que envolvem a sociedade com os cavalos, esse símbolo de um passado até português e que vai buscar as nossas referências de filmes e séries. Um passado que, para amantes mais casuais do cavalo, parecia ser sem lei, mas cheio de aventura, paixão e liberdade. O cavalo tudo isso nos faz sentir. E o Lusitano faz sentir isso tudo, e ainda o significado de casa.
Simultaneamente, no Auditório da ACOS, decorreu a conferência “+ Futuro + Impacto Social”, organizada pela ACOS e pela Incubadora de Inovação Social do Baixo Alentejo. Participaram representantes da Fundação EDP, Governo dos Açores, Portugal Inovação Social, Alentejo 2030 e Junta da Andaluzia.
Tecnologia de ponta para a nova ruralidade
No Campo da Feira, houve demonstrações de drones aplicados à agricultura, com o apoio da ACOS e InovtechAgro. O objetivo foi divulgar novas ferramentas tecnológicas e promover a literacia digital no setor agrícola, aproveitando todos os temas, ferramentas e conferências que esta edição da Ovibeja traz.
Além das atividades equestres e agrícolas, o programa incluiu o “Open Day” do Instituto Politécnico de Beja, com apresentações e demonstrações tecnológicas aplicadas à agricultura de precisão, e sessões dedicadas à agroecologia, impacto social e cultura do medronheiro. O medronheiro, apesar de ser uma árvore bem nossa, típica do Mediterrâneo, continua a ser um recurso subaproveitado, mesmo com capacidade de adaptação notável. Além disso, o fruto em si tem valor — pode ser usado para fazer aguardente, compotas ou até produtos de cosmética e bem-estar.
Medronheiro e o líquido feliz chamado “medronho”
Há cada vez mais pessoas a olhar para isso como uma oportunidade económica, especialmente em zonas de interior onde é difícil competir com a agricultura intensiva. E, nesta conjuntura, porque não apostar no fruto que dá essa bebida típica do Alentejo e que nos faz ter chama por dentro e expressão por fora, o medronho?
Ou seja, mais do que uma curiosidade botânica, o medronheiro pode ser parte da resposta à desertificação e ao abandono rural.
Corrida de toiros memorável e concertos inesquecíveis
Nesse sentido, a componente animal foi reforçada com o XII Concurso Regional do Cão da Serra de Aires e várias demonstrações organizadas pelo Clube Cinófilo do Alentejo, mais marcas do Alentejo e com selo da portugalidade que conquistou meio mundo a caravela. A tarde culminou com a tradicional Corrida de Toiros na Praça José Varela Crujo, seguida de uma noite animada com concertos de Azinhaga, Bandidos do Cante, DJ João Melgueira e After Nothing.
Assim, a Ovibeja continua assim a afirmar-se como palco de diálogo entre tradição e futuro, com espaço para os saberes e sabores do campo, a inovação científica e o orgulho nas raízes do nosso país, em que voltar onde fomos (ou podemos ser) felizes, nunca é demais!
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