Bandidos do Cante tomaram de assalto o segundo dia da Ovibeja

Bandidos do Cante tomaram de assalto o segundo dia da Ovibeja, a 2 de maio, pelas 23h, e não faltaram convidados especiais. 

Texto: André Nunes / Fotografias: João Silva

Uma voz-off é ouvida. Sobre a rebeldia deste grupo, um grupo com o “cante na tola”. E vamos a isso, vamos a uma noite que prometia encher os sentidos e fazer-nos olhar com brilho nos olhos para o abismo de tudo o que queremos para nos fazer sorrir e rir. E os Bandidos do Cante fizeram isso mesmo. 

Temas surpresa de rompante! 

Para grande surpresa do público e com acompanhamento a condizer, os Bandidos começam logo com “É o que é”, dos Dama e cantado também com Buba Espinho no álbum da banda. “Eu sou louco por te querer e ficar sem saber”, e só se ouvia público. 

Na continuação de temas supressa e para deleite do público, os Bandidos dão vez a “Circo de Feras”, de Xutos e Pontapés. Assim, como um relâmpago, o público é atingindo por uma onda de energia nostálgica nos versos “E enquanto esperava/ No fundo da rua/ Pensava em ti/ E em que sorte era a tua/ Quero-te tanto” num ato de sabermos que queremos tanto alguém. E milhares de alguéns juntarem-se à nossa voz e ao nosso pedido ao vento e ao ar numa noite recheada de aventura e peso comovedor na Ovibeja. Este tema foi uma autêntica surpresa mas mais se seguiram!

Surge agora o primeiro convidado da noite, em antevisão e uma nova reunião daqueles que são os autênticos Vingadores do Cante Alentejano (mas já la vamos): Eduardo Espinho. Pouco a pouco esta reunião dos heróis musicais entusiasma o público, que recebe muito bem qualquer um que se junte aos Bandidos. Com Eduardo e os Bandidos, ficámos a saber que “está a chegar o amor” e “não há melhor para esquecer qualquer dor”. 

E nós dizemos que há uma coisa quase tão excelente para esse efeito, que é ouvir os Bandidos a cantar “Amigos Coloridos” para milhares de pessoas, na sua casa. 

“Amigos Coloridos” e “Já não há pardais no céu”. 

Nesse sentido, os Bandidos chamam, logo a seguir a palco, Jorge Benvinda, a quem agradeceram por ser o autor de “Amigos Coloridos” e “Já não há pardais no céu”. 

E, eventualmente, os Bandidos cantaram essas músicas. “Amigos coloridos”, é um dos temas pelos quais o público mais ansiava e falava, encostados às grades frente ao palco. Ou seja, logo quando as pessoas começaram a combinar, para se deslocar à Ovibeja, para ver os Bandidos, já tinham essa música em mente para ouvir. Ainda para mais, ouvir num grande palco, como é o palco da Ovibeja. 

Começaram com “Já não há pardais no céu”. Um tema melancólico, sobre uma outra altura, em que se ouvia mais a natureza, em que a criança em nós reparava em mais coisas, em que em adolescentes víamos as coisas com um filtro diferente, com muito mais cores, e cores muito mais vivas, e quase a cinzento. Um tema que nos joga para trás, tanto ao nível da história da música, da história do cante em específico, mas também da nossa história pessoal. E de quando nós víamos muitos pardais no céu, e sorriamos, e a vida era bela. E ainda é. Mas já não se ouvem tantos cigarras, e já não se vêm pardais no céu.

Quanto a “Amigos Coloridos”, não há muita coisa a dizer, pois quem vos escreve ficou sem palavras, e o público ficou sem palavras, pelo menos para descrever. Porque as palavras dos versos, essas todos tínhamos na ponta da língua, e todos acompanhámos. Este novo grupo, este irreverente grupo, vai dar muito de falar a nível do Cante e música tradicional portuguesa no geral, foram as palavras que chegaram depois. 

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“Tinha 14 anos e vi os Buraka na Ovibeja”

Um dos Bandidos comenta em palco que “Tinha 14 anos e vi os Buraka na Ovibeja. E agora estamos aqui”. E a comemoração do Alentejo e Cante continuava.

Seguimos para um tema muito especial, original de António Zambujo: “Rosa Albardeira”. Um tema sobre uma flor que é espontânea e que é única na Península Ibérica. Uma flor resistente, mas com uma beleza individual forte também. Uma música muito sobre o que é ser mulher no Alentejo rural e ser resistente todos os dias. Para colocar comida na mesa e mesmo assim amar a família com cada parte do seu ser. 

Esta é uma ode ao Alentejo e foi uma ode aqui que os Bandidos fizeram ao seu canto no mundo. E fica aqui também a ideia de que eles marcaram este grande evento. E são a “Rosa Albardeira” deste grande evento até agora.

Havemos de voltar aonde fomos felizes, “seja lá o quando isso for”

Vamos chamar uma pessoa que nos deu a mão”, afirmam os Bandidos do Cante. “Buba Espinho, senhoras e senhores!”.

Tenho de contar uma coisa”, desabava Buba. E continua: “Obrigado por encherem esta casa. E as pessoas que estão aqui vão encher o Coliseu dos Bandidos em 2026”! “Está assinado”, respondem os Bandidos. 

Agora com Buba em palco, nada como cantar “Um Dia Hei De Voltar”. Sentaram-se como se estivessem à volta de uma fogueira, rodeados de barris. Era a lembrarem-se das suas vidas passadas. Estabeleceram um contacto incrível com o público, em que todos cantámos em uníssono, todos sentimos alguma coisa, todos tivemos empatia pela pessoa do lado, pela pessoa atrás, que estaria a passar por uma situação idêntica ou parecida à nossa. 

Foi uma viagem. Uma memória coletiva. Parecia que cada um em palco se recordava de outra vida, de outras terras, de partidas e regressos, e nós na plateia também. Fomos todos alentejanos neste momento, fomos todos bandidos. 

Luís Trigacheiro é o último convidado surpresa da noite

E como não podia faltar para concluir esta reunião de heróis do cante, Luís Trigacheiro surge em palco para uma plenitude de palmas por parte da audiência. E, com este grupo já clássico reunido, ouvimos um tema intemporal: “Menina estás à janela”. A Ovibeja tornou-se uma grande janela para o mundo, em que o mundo espreita de volta para o maior evento do Sul onde mesmo com o seu caráter por vezes mais de massas, que tem atualmente, continua a ter momentos que são bonitos de ver e ouvir. 

Hoje quem paga a rodada são os Bandidos!”, exclama Buba, para alegria do público. 

E como vocês são importantes, vamos anunciar que a 20 de dezembro apresentamos o nosso álbum no Pax Júlia e contamos com todos vocês! Os bilhetes estarão disponíveis esta semana”, revela o grupo. E a notícia caiu como uma bala de alegria para o público. 

Depois, um tema de Trigacheiro: “Amanhã é Melhor”. Começa devagar, quase como uma conversa ao final do dia, com uma guitarra que parece vir de dentro da terra, e vai crescendo aos poucos, como quem ganha coragem para dizer aquilo que custa. A letra é simples mas certeira: fala daquelas alturas em que tudo parece estar a correr mal, mas mesmo assim há qualquer coisa lá no fundo que nos empurra para acreditar, talvez amanhã. É um tema que sussurra esperança e com estas vozes tornam tudo mais real e mais sentido no estômago”. 

Bandidos do Cante na Ovibeja: Um encore incrível

Obrigado por apoiarem a música portuguesa, os Bandidos do cante, quem somos. Obrigado Beja até uma próxima”, dizem os Bandidos. Mas sem antes fazerem um encore, no seu bom humor já habitual.

Ao voltar a palco, pedem: “O apagão já foi e todos carregaram os telemóveis. Eu troquei uma powerbank por um T3. Por isso queremos ver as lanternas no ar!

Foi neste final, ainda com esta autêntica seleção nacional do melhor que o cante tem para dar, cantar uma vez mais o “Casa”, que levou toda a gente a levantar as lanternas dos seus telemóveis. E este grupo estava em casa, junto dos seus. E nós nesta casa, entre barris e a olhar para a fogueira imaginária no meio da rica e icónica planície alentejana de trigo e olivais, que iriamos ter num futuro hipotético ao “chegar a casa”, “dar um beijo” e casar mesmo “que o teu pai não deixasse”. Porque casa, tal como diz o tema, também é “bagunça” e seguir viagem até ao por do sol do Alentejo, com crianças no banco de trás a perguntarem se já chegámos. 

Fiquemos com… “Castelo de Beja”

Porém, a surpresa final era outra… Todos em conjunto, com braços entrelaçados, a bandear lentamente de um lado para o outro, com olhos semicerrados, cantaram o “Castelo de Beja”. Uma canção que não exalta só esse património cultural de Beja, que até está destacado na Ovibeja este ano, mas também, como para o Castelo de Beja iguala o voo da Águia Real, numa autêntica capacidade de emanar nostalgia, e foi o que estes cantores conseguiram fazer. 

Ficámos assim todos embalados no Castelo de Beja, com vontade de visitar, com a imagem lá atrás no ecrã, e ficámos todos a ter saudades. Do quê? Isso cada um sabe o que a saudade lhe deve. Mas ficámos a ter saudades, e ficámos, tal como eu, com saudades de ver este grupo reunido novamente. Como neste dia especial, neste evento enorme e massivo, que é, óbvio, Beja, mas que nesta noite foi o canto de um beco ou tasca de Beja, com amigos a cantar, com amigos a comemorar, com amigos a divertirem-se, e com amigos a emocionarem-se. E a arrepiarem todos os presentes. 

“Subindo lá vais,
Castelo de Beja.

Minha terra é Beja,
Não posso negar.
Todos me conhecem,
Todos me conhecem,
Pelo meu cantar”.

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