Bruno Chaveiro: Um embaixador do Sabores no Barro orgulhoso de um evento único, que lançou recentemente o seu segundo disco.
Entrevista: André Nunes e Rui Lavrador / Fotografia: Diogo Nora / Texto: Rui Lavrador
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Como aqui fomos dando conta ao longo da última semana, Beringel recebeu o Sabores no Barro de 27 a 30 de Março.
Nesse sentido, vários foram os momentos de emoção ali vividos, quer pelos artistas que actuaram, quer pelo público que assistiu.
Bruno Chaveiro é um dos embaixadores e concedeu entrevista ao Infocul.pt sobre o evento, falando ainda um pouco do seu mais recente disco.
Bruno Chaveiro: “Beringel tornou-se um pouco a embaixada do cante e de todo este encontro entre as pessoas”
Bruno, mais uma edição do Sabores no Barro, da qual és um dos embaixadores. Começo por perguntar-te como é que se vai renovando a tradição, mantendo a essência e acima de tudo levando-a a cada vez mais pessoas, sem contudo alargar o espaço para que isto continue a ser uma algo intimista e que as pessoas não possam vivenciar em outros sítios.
O segredo é sempre na malta mais nova, a gente vê que todos os anos vão aparecendo cada vez mais miúdos novos a tocar e a cantar e é isso é que faz perpetuar a tradição. Aliás, aqui no distrito de Beja têm-se feito muitos projetos em prol dessa realidade de ensinar o cante nas escolas e tudo mais e damos por nós, nos últimos 10 anos, temos aí uma geração inteira de miúdos com – até antes – dos 20 anos que sabem as modas todas e que tocam e cantam e que têm realmente uma paixão muito grande por isto e que defendem a cultura com unhas e dentes e aqui Beringel tornou-se um pouco a embaixada do cante e de todo este encontro entre as pessoas, portanto o segredo é esse, é alimentar culturalmente os miúdos e convidar todos os anos sempre que há gente nova.
Bruno Chaveiro: “o cante alentejano é esta coisa de espírito de corpo coletivo que realmente me fascina”
O teu percurso acaba por ser engraçado, sendo tu natural do Alentejo, depois acabas também por ir mais para Lisboa, mais para a questão do fado, acabas também por absorver outras músicas tradicionais de Portugal, também pelos artistas que vais acompanhando, mas depois voltas sempre ao ponto inicial, aquilo que eu te pergunto é se este regresso sempre ao ponto inicial acaba por ser quase a vitamina para que depois tudo o resto seja melhor absorvido?
Isto é como aquela história de o melhor das férias é voltar a casa e andamos de um lado para o outro e sou um profundo apaixonado por música tradicional portuguesa no geral, seja ela qual for, o cante alentejano e o fado são apenas dois dos géneros, mas fora isso Portugal tem uma riqueza realmente muito grande e incrível e lá está, como dizias os artistas com quem tenho trabalhado, tenho tido a sorte de poder explorar muito essa realidade e voltar a casa.
Lá está, o cante alentejano no sentido de origem, foi com o cante e com as modas e cantar em conjunto acima de tudo e principalmente pelo espírito de comunidade e amizade que existe nestes géneros tradicionais que são coletivos, com formações mais pequenas, como no fado ou noutros géneros musicais mais individualistas de alguma forma, o cante alentejano é esta coisa de espírito de corpo coletivo que realmente me fascina.
Bruno Chaveiro: “A mensagem, portanto o disco chama-se Alento, esta ideia do alento é muito também ligado à realidade alentejana”
Isto acaba por também se refletir nos trabalhos discográficos que vais lançando, recentemente lançaste um novo disco, apresentaste-o no Maria Matos, agora depois do disco já estar feito, depois das pessoas já o terem ouvido, depois do retorno que vais tendo, qual é que foi a principal mensagem que quiseste passar neste disco e qual é o retorno que estás a ter por parte do público?
A mensagem, portanto o disco chama-se Alento, esta ideia do alento é muito também ligado à realidade alentejana, mas é um alento que aparece como uma esperança comedida no futuro, aquela ideia de que acreditamos que vai ficar tudo bem, mas a verdade é que se ficar mais ou menos também está tudo bem, e é esta ideia de futuro esperançoso, mas realista e de pés assentes na terra, sem demasiada expectativa. E no fundo, quer dizer, pela história, sabemos que a história do Alentejo e do trabalho duríssimo de campo e de sol a sol e tudo mais, existe muito esta ideia do alento, de perseverança, de aguentar e de sobreviver, no fundo, da melhor forma possível.
Bruno Chaveiro: ” Essa será a nossa maior responsabilidade, trazer as pessoas cá e os nossos amigos para que depois eles próprios se tornem embaixadores”
E enquanto embaixador aqui do Sabores no Barro, o que é que tu encontras como sendo as tuas maiores responsabilidades, mas também os teus maiores desejos no trabalho como embaixador?
A responsabilidade maior dos embaixadores aqui realmente é promover e divulgar o Sabores no Barro, é convidarmos os amigos e as pessoas todas com quem trabalhamos e muito também fora da realidade do cante, também convidar outros artistas e outros músicos, amigos acima de tudo, que venham experienciar esta coisa do cante alentejano e que percebam que uma coisa é ouvir um concerto de um grupo coral ou um disco, outra coisa é passar aqui estes dois ou três dias e beber e ouvir cante de manhã à noite de uma forma muito autêntica. Essa será a nossa maior responsabilidade, trazer as pessoas cá e os nossos amigos para que depois eles próprios se tornem embaixadores e que para o ano tragam eles os amigos e assim sucessivamente.
E a esperança é esta mesmo, é que se vá renovando, que vá crescendo e que venha cada vez mais gente, estamos cá para receber todos aqueles que são apaixonados por isto, tal como nós.
Uma festa onde basta simplesmente ser?
Sem dúvida. Sem dúvida, não há cá malabarismo de coisa nenhuma, é chegar e somos como somos, somos muito felizes, amamos a nossa cultura, amamos Beringel e é isso, são três dias de partilha e amizade.
E podemos dizer que o Sabores no Barro dá alento?
Muito, muito, aliás, nós não saímos daqui sem deixar estabelecidos os dias e as datas do próximo ano, portanto, nós vivemos o resto do ano com o alento que chega o final de março para voltarmos a fazer o Sabores no Barro.