Bastinhas elétrico e indomável foi de nota maior em Azambuja

Bastinhas elétrico e indomável foi de nota maior em Azambuja, na corrida de touros realizada na tarde de domingo.

Texto: Rui Lavrador / Fotografias: Carlos Pedroso

A Praça de Toiros Dr. Ortigão Costa, na Azambuja, foi palco este domingo de uma tarde de afición, onde se cruzaram tradição, mestria e excentricidade artística. No redondel, três cavaleiros com universos distintos marcaram a pauta da corrida: Luís Rouxinol, Marcos Bastinhas e Parreirita Cigano. Com toiros da ganadaria Jorge de Carvalho, as pegas ficaram a cargo dos valorosos Forcados Amadores da Azambuja, num espectáculo integrado na centenária Feira de Maio.

Marcos Bastinhas: Fenómeno sísmico de carisma

Marcos Bastinhas foi o nome maior da tarde. Mais do que um cavaleiro, apresentou-se como um verdadeiro fenómeno cénico, um vendaval tauromáquico de energia visceral, onde classicismo e irreverência se fundiram com intensidade quase operática.

Nesse sentido, Marcos Bastinhas é mais do que um cavaleiro tauromáquico. Ele é um fenómeno sísmico de carisma, um vendaval de excentricidade que sopra com fúria estética pelas arenas nacionais. Dono de uma presença cénica fulgurante e indomável, Bastinhas encarna uma simbiose rara entre o classicismo do toureio e uma energia disruptiva, quase tribal, que galvaniza multidões e desconcerta puristas.

Não é apenas a sua destreza técnica que impressiona — é a teatralidade meticulosamente descomposta, o gestualismo hiperbólico, quase barroco, que empresta à lide um dramatismo operático. Cada ação sua tem a pulsação de um solo de guitarra elétrica em plena catedral. Há algo de messiânico na forma como se entrega à praça: desafia o previsível, desafina o cânone e transcende a repetição.

No primeiro da ordem, enfrentou um toiro manso e reservado, que se refugiava constantemente nas tábuas. Com inteligência e instinto, Bastinhas desconstruiu o oponente, movendo-o de terrenos e obrigando-o a investir. A lide foi crescendo até culminar num ferro de palmo vibrante, depois de um cite em circunferências onde, apesar de um toque sofrido, a sua superioridade saiu intacta.

Na sua segunda actuação, Marcos Bastinhas atingiu o auge emocional da tarde. Perante um toiro novamente reservado, entregou-se com alma e precisão. Cada reunião foi um golpe de inspiração, superando-se na raça e no que atrás foi escrito, numa mescla de características que o torna diferenciado. Foi uma lide que transcendeu a técnica, uma entrega messiânica que conquistou por completo o público azambujense.

Luís Rouxinol: Inteligência do rei da regularidade

Luís Rouxinol, paradigma de regularidade e sobriedade, foi outro dos nomes em evidência. No primeiro do seu lote, lidou um toiro que, após saída viva, rapidamente se apagou. O cavaleiro de Pegões respondeu com sabedoria e rigor cartesiano, optando por uma lide em curto, de modo a manter o toiro atento. Destacaram-se dois ferros curtos de alto nível, cravados com a precisão de um ourives. A actuação foi acompanhada pelo pasodoble “Forcados Amadores da Azambuja”.

No seu segundo toiro, Rouxinol encontrou um adversário mais complicado e de comportamento irregular. Ainda assim, desenhou uma lide interessante, embora sem alcançar a intensidade da primeira. Foi mais uma exibição de solidez e compostura irrepreensível.

Parreirita Cigano: Um sobe e desce emocional muito aplaudido

Parreirita Cigano teve pela frente um toiro difícil, com tendência acentuada para tábuas. Depois de um início instável, soube encontrar o caminho com ferros a sesgo, que despertaram o entusiasmo da praça. Terminou em nota positiva, mesmo com alguns toques sofridos.

No segundo touro do seu lote, apesar de várias passagens em falso, conseguiu alguns momentos de qualidade, destacando-se em um curto de bom nível. Conseguiu conquistar o público, embora com duas actuações que pese os bons momentos, foram montanhas russas emocionais. Ainda assim, passagem positiva pela Azambuja.

Forcados Amadores de Azambuja: Tarde de passagem de testemunho

A tarde era de despedida para o cabo Nuno Matos, que passou o testemunho a João Gonçalves. Assim, a emoção foi algo que marcou a tarde deste grupo. Quanto às pegas, o grupo mostrou-se competente e soube resolver os problemas impostos pelos touros.

Nesse sentido, foram à cara Telmo Carvalho (1ª tentativa), Pedro Lourenço (2ª tentativa), Diogo Félix (1ª tentativa), Nuno Matos acabou por ter de ser dobrado por um colega, após lesionar-se na primeira tentativa, com a pega a ser concretizada pelo grupo à segunda, Hugo Mendes (4ª tentativa) e João Gonçalves (1ª tentativa).

Por outro lado destacar a homenagem da autarquia de Azambuja a Nuno Matos, no intervalo da corrida e ainda a passagem de testemunho do anterior cabo ao novo, após a lide do 5º (devido à lesão sofrida por Nuno Matos no 4º).

Touros de Jorge de Carvalho

Foi um curro homogéneo em apresentação, díspar em comportamento, com maioria dos touros a complicar e alguns a terem querença em tábuas, levando os cavaleiros a esforço suplementar. Destacar ainda alguma falta de força das rés. No geral, não sendo mau, esteve longe de ser um curro extraordinário.

Conclusão

Por fim, em tarde de final da taça de Portugal entre Benfica e Sporting, Rui Bento Vasques (e A Poisada do Campino) arriscou e ganhou. Lotação aproximada de 3/4 de casa, um cartel de 3 cavaleiros (algo raro nesta praça nos últimos anos) e uma corrida que não sendo incrível artisticamente, não maçou ninguém.

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