Bernardo Emídio: Um EP com tradição e estético, mostrando-se conhecedor do que ali quer apresentar ao público.
Há momentos em que um nome novo nos obriga a prestar atenção. Não por força de artifícios ou estratégias de promoção, mas porque há uma verdade que se impõe — pela voz, pela presença, pela música. Bernardo Emídio é um desses nomes. Com a edição do seu primeiro EP a solo, lançado no final de abril, o músico natural de Beja afirma-se como um intérprete sólido, com raízes bem cravadas na tradição e um olhar lúcido sobre o presente.
Filho de José Emídio, fundador dos Adiafa, Bernardo cresceu a ouvir e a viver a música tradicional portuguesa. Mas mais do que herdeiro, mostra-se continuador. O seu percurso não é apenas biográfico; é formativo e artístico. Começou como baterista numa banda de rock aos 10 anos, estudou no Conservatório Regional do Baixo Alentejo e consolidou-se no jazz com passagem pelo Hot Club. Esse percurso diversificado é visível na forma como aborda a música: com respeito pela essência, mas sem medo da subtileza ou da nuance.
Bernardo Emídio: Alinhamento do EP
O EP agora lançado é um exercício de identidade e pertença. Composto por seis temas — Querido Alentejo, Hino dos Mineiros, Águia, De Onde Vens Oh Ana, Ondinhas Vêm do Mar e Já os Arames Trabalham — o disco apresenta-se como um tributo à terra, à memória e à voz coletiva de um povo. Não há ali pendor comercial nem concessões fáceis: há clareza estética e respeito pelo repertório.
A forma como Bernardo canta o Hino dos Mineiros ou Querido Alentejo, temas que o tornaram conhecido do grande público durante a sua comovente participação no Got Talent Portugal 2025, mostra não apenas técnica, mas entrega. É essa entrega, despojada de vaidade, que mais impressiona. As interpretações não se limitam a reproduzir a tradição; transmitem um sentimento que é simultaneamente íntimo e universal.
É impossível ignorar a ligação entre a sua vivência pessoal e o seu percurso artístico. Ter crescido ao lado dos Adiafa, grupo que ajudou a renovar o cancioneiro popular com autenticidade e bom humor, deixou-lhe marcas que agora se revelam com maturidade. A experiência com Os Vocalistas, outro projeto com forte ancoragem nas raízes, reforça essa coerência.
Bernardo Emídio é, hoje, um nome que merece ser ouvido com atenção. Não porque tenha participado e brilhando num concurso ou gravado um EP — mas porque o que faz, faz bem. Porque quando sobe ao palco, seja num programa televisivo ou num festival local, representa algo maior do que ele: a vitalidade da música portuguesa, a continuidade do Alentejo cantado e sentido, a possibilidade de um país que não precisa de se esquecer para se reinventar.
Este EP não é um ponto de chegada. É, esperamos, o primeiro de muitos passos seguros. E se assim for, a música portuguesa só tem a ganhar.