MEO Arena encheu para embarcar nas ‘Viagens’ de Pedro Abrunhosa, na noite deste sábado, com intensidade máxima.
Texto: Rui Lavrador
Fotografias: Diogo Nora
‘Viagens 3.0’ foi o espectáculo que Pedro Abrunhosa trouxe, este sábado – 23 de Novembro, à MEO Arena, em Lisboa.
Assim, trata-se de celebrar os 30 anos de um disco marcante, na carreira do artista e na história da música portuguesa, porém o concerto foi algo similar a um limbo, entre o passado e o futuro, mais focado neste último.
Pedro ‘Intemporal’ Abrunhosa
Ou seja, com Pedro Abrunhosa, o público é levado numa dinâmica entre ‘Viagens’ e o ‘Espiritual’, curiosamente dois títulos de trabalhos discográficos seus.
Ou seja, uma viagem por décadas de boa música, na qual a espiritualidade marca presença, capaz de deixar diferente todos os que se propõem a ouvir, por entre a reflexão e a poesia.
Nesse sentido, a arte de Pedro Abrunhosa é feita de memória e desejo, sabendo de onde veio e para onde quer ir, mas dando sempre a certeza de para onde não quer ir.
Se por um lado por vezes é criticado pela, alegada, excessiva intervenção política, por outro – factualmente – Pedro fala-nos do mundo em que vivemos, com palavras cruas, simples, mas profundas.
Da mesma forma isso inquieta quem se predispõe a ouvi-lo, musical ou socialmente, e dessa inquietação parte a idolatria ou a crítica, um problema com o qual vivem os intelectuais cuja obra alcança a infinidade, mesmo que a fisicalidade seja finita, como os demais mortais.
Na MEO Arena, o artista mostrou-se à moda de um bom tinto reserva, no qual as maiores virtudes chegam com o tempo, porque se ‘Viagens’ foi disruptivo à altura, a verdade é que a obra mais recente de Abrunhosa tem-se tornado a banda sonora de milhares de portugueses, porque é deles que ela também é feita.
Assim, com três horas em palco, a máquina do tempo viajou em duplo sentido várias vezes, num alinhamento que deixou ainda de fora alguns clássicos, porém sem que isso fizesse o espectáculo baixar a qualidade – antes pelo contrário.
Ao passo que contou com convidados especiais como Sara Correia, Diogo Piçarra, Cláudia Pascoal, Os Camponeses de Pias e Paulo Ribeiro.
Alinhamento de Pedro Abrunhosa:
Viagens
Estrada
Não tenho mão em mim
Fantasia (Cláudia Pascoal)
Fazer o que ainda não foi feito
Rei do Bairro Alto
Talvez Foder
Vem ter comigo aos Aliados
Será
É preciso ter calma
Não te ausentes de mim
Leva-me para casa
Que o amor te salve nesta noite escura (Com Sara Correia)
Se eu fosse um dia o teu olhar (Com Diogo Piçarra)
Amor de Ferro (Com Diogo Piçarra)
Balada de Gisberta (Interpretada por Paulo Praça)
Mais perto do Céu (com Leonardo Barreiros e Mário Barreiros, produtor do disco Viagens)
Não posso mais
Acima & Abaixo
Socorro
Ilumina-me
Eu não sei quem te perdeu
Momento (Com Grupo Coral Camponeses de Pias e Paulo Ribeiro)
Para os braços da minha mãe (Com Grupo Coral Camponeses de Pias e Paulo Ribeiro)
Loucas são as noites
Tudo o que eu te dou (Com todos os convidados em palco)
Pedro Abrunhosa: “O Silêncio é o pior de todos os males”
Em palco, contou com Paulo Gravato no saxofone, Bruno Macedo na guitarra, Paulo Praça na guitarra, Patrícia Antunes e Patrícia Silveira nas back vocals, Cláudio Souto, Mário Barreiros na guitarra, Miguel Marques no baixo, Daniel Dias no trombone e Rui Pedro no trompete.
Conforme decorria espectáculo e à medida que foi abordando vários assuntos, entre as canções interpretadas, foi deixando – como habitualmente, algumas mensagens.
Sobre a venda da MEO Arena à Live Nation, assinalou: “Que o MEO Arena no futuro continue a receber assim os artistas portugueses“.
Sobre o mundo, em particular as guerras, destacou que “não há maior símbolo de paz do que as mãos abertas” e que “o homem é um animal violento e mau. O silêncio é o pior dos males. Porque depois do silêncio vem o caos. E por isso as palavras têm de ser ditas“.
Um dos temas interpretados foi Será e ao anteceder o tema com uma breve explicação, emocionou-se: “‘Será’ é uma canção que canto poucas vezes porque foi escrita para um irmão meu que foi vitima da…“, não concluindo a frase e a com a voz embargada.
Por fim, um novo tema que promete arrebatar tudo e todos, de tão sublime que é, intitulado: “Não te ausentes de mim” e cujo refrão é:
“Se eu puder roubar o fogo
Que a tua luz se acenda em mim
Nem rosas brancas nem fios de ouro
Nunca mais te ausentes de mim“
Junto ao Tejo, MEO Arena encheu para embarcar nas ‘Viagens’ de Pedro Abrunhosa.