25 de Abril: E agora, liberdade? Está na hora de pararmos, pensarmos, redefinir atitudes e perceber o que queremos.
Comemoramos mais um 25 de Abril. Mais uma vez, gritamos “liberdade” com orgulho, enchemos as ruas de cravos e os discursos de promessas. Mas, passado meio século, será que cumprimos verdadeiramente a missão de Abril?
Sim, vivemos numa democracia. Votamos. Falamos. Publicamos. Protestamos. Mas será que temos mesmo liberdade? Ou apenas a ilusão dela? A liberdade que se sonhou em 1974 era mais do que abrir portas e janelas — era dar dignidade, igualdade e voz a quem nunca a tivera. Era criar um país onde todos pudessem viver sem medo, sem fome, sem silêncio imposto. Um país onde pensar diferente não fosse perigoso, onde o poder não voltasse a esquecer-se das pessoas.
E hoje? A quem serve a nossa liberdade? Às vezes parece um privilégio dos que têm meios, voz e visibilidade. A liberdade, para muitos, ainda não passou da teoria. Há quem continue preso a salários de miséria, a filas nos hospitais, a escolas onde faltam professores, a casas onde não cabe dignidade.
25 de Abril: Sabemos usar a liberdade?
E mais: estará a liberdade a ser posta em risco? Quando o ruído se sobrepõe à escuta, quando o ódio ocupa os espaços que deviam ser do diálogo, quando confundimos opinião com ataque e verdade com gritaria… estaremos a proteger Abril ou a desvirtuá-lo?
E talvez o ponto mais difícil de todos: sabemos usar a liberdade? Ou usamos esta conquista para justificar tudo — até a ofensa, o individualismo, a irresponsabilidade? Será que, em nome da liberdade, estamos a cultivar mais libertinagem do que consciência?
A liberdade, como a democracia, não é um estado fixo. É um exercício. Um desafio permanente. É o que fazemos dela, todos os dias. O respeito pelos outros, mesmo quando pensam o contrário. É a capacidade de sermos livres sem deixarmos ninguém para trás.
Por isso, neste 25 de Abril, não chega celebrar. É preciso pensar. Questionar. Escolher, de novo, o lado certo da história.
Afinal, será que já estamos mesmo à altura da liberdade que conquistámos?