Camané como sempre “Soube estar” e abriu a nova “sala de estar” da Casa do Artista, na noite de ontem, em Lisboa.
Texto: Francisco Potier Dias
Fotografia: Arquivo Infocul.pt
Camané abriu o Festival Na Minha Casa, no dia 13 de janeiro de 2025, com um concerto memorável no Teatro Armando Cortez, esta que acaba por ser a reinauguração depois de profundas obras de requalificação, situado na Casa do Artista, reafirmando o seu lugar como um dos maiores intérpretes de fado.
Num ambiente intimista e acolhedor, o palco transformado numa “sala de estar” proporcionou uma proximidade rara entre o artista e o público, reforçando a autenticidade que caracteriza a música de Camané.
O fadista revisitou grandes êxitos da sua carreira, como “A Guerra das Rosas”, “Sei de um Rio”, e o emocionante “Com que voz”, este do repertório de Amália Rodrigues, cativando os presentes com a sua interpretação profunda e o timbre inconfundível.
Entre as escolhas do repertório, destacou-se a melancolia poética de “Abandono” e a força lírica de “Ela Tinha uma Amiga”, transportando o público para as paisagens emocionais do fado tradicional.
Acompanhado por um trio de excelência — José Manuel Neto na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença na viola de fado e Paulo Paz no contrabaixo — Camané deu vida a melodias que ecoaram tanto a saudade como a resistência, pilares essenciais do género.
O diálogo entre os músicos foi impecável, com momentos instrumentais que arrancaram aplausos entusiásticos.
Além da qualidade musical, Camané usou momentos entre as canções para refletir sobre a importância da Casa do Artista e a missão de apoiar os profissionais do setor cultural, destacando o simbolismo deste festival, cujas receitas revertem para a requalificação do teatro.
O concerto terminou com um encore vibrante, em que Camané trouxe ao palco “Havemos de nos ver outra vez”, deixando o público em pé e visivelmente emocionado.
Foi uma noite em que o fado brilhou como expressão intemporal da alma portuguesa, num espaço dedicado à preservação e promoção da arte e dos artistas.