Jorge Fernando: “O segredo da música é a irracionalidade”, destacou o conceituado artista em declarações ao Infocul.pt.
Texto e Entrevista: Rui Lavrador
Fotografia: Diogo Nora
Jorge Fernando encheu o seu segundo concerto no Teatro Tivoli, em Lisboa, este ano, no passado dia 23 de Setembro, depois do sucesso da primeira noite, há alguns meses.
Assim, antes de subir ao palco, o músico explicou ao Infocul.pt que quis criar dois momentos distintos. “Eu pensava fazer dois concertos para, no primeiro, agradecer como agradeci todos aqueles que estão na música com os quais cresci, com os quais crescemos. E desta feita, gente mais próxima da minha geração musical, que eu sou mais velho que eles, mas geração musical, e que fazem parte da minha vida”, afirmou.
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O cantor recordou ainda nomes importantes no seu percurso. “Todos eles tiveram parte da minha vida. O Berg, quando fiz os Coliseus em 2011, cantou ‘A Chuva’. A Filipa [Cardoso] é uma descoberta minha. O Jonas, que é daqueles mais incríveis que eu vi em toda a minha vida, andei quase dez anos a tentar lançar o projeto”, acrescentou.
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O disco “Inéditos” e a inspiração
A conversa abordou também o histórico disco Inéditos, gravado no Tivoli. “Foi aqui de onde saiu esse disco ao vivo, que é para mim, se calhar, o meu melhor disco mesmo. Porque gravado ao vivo é outra coisa”, disse Jorge Fernando.
Para o artista, a essência da música não está na razão, mas no sentimento. “O segredo da música é a irracionalidade. Quando tu metes a mente muito a pensar, as coisas já não são inspiradas. A inspiração é um ato pelo qual tu te tornas veículo de qualquer coisa que não percebes o que seja, ou sentes. Quando vais racionalizar, não há esse circuito. Pelo contrário, dá um curto-circuito e as coisas não saem tão fortes”, partilhou.
A ligação a Prince e novas criações
O músico revelou ainda detalhes sobre o tema “A sós com a Noite”, que lançou recentemente, depois de ter sido gravado há vários anos por Ana Moura, num disco produzido por si. “É um agradecimento à Ana por ter levado a minha música até ao Prince e sobretudo também ao Prince por a ter tocado. Este é um tema que ele achava brilhante e ficou curioso porque não era conhecido em Portugal”, contou.
Apesar de já ter muitas canções escritas, nem todas chegaram ao público. “Já estou a deixá-las na mão da Fábia [Rebordão], como tu sabes. E se por qualquer coisa repentina eu voltar à ilha do meu nascimento, penso que ela saberá dar bom recado daquilo que lhe deixo”, confidenciou.
Uma reflexão sobre a própria carreira
Questionado sobre o futuro, Jorge Fernando mostrou-se introspectivo. “Eu vejo ultimamente, quando encho estas casas, que é um povo que gosta de mim, que é uma gente que me ama e com a qual eu não só amo, mas sem eles não sei viver. É por eles que eu existo, é por eles que eu cá estou. E se calhar nesse campo, eu tenho-lhes dado muito pouco”, reconheceu.
Por fim, destacar e relembrar que desde 2016 é Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.




