Reality Shows em Portugal: Por que Continuamos a Premiar a Burrice?

Reality Shows em Portugal: Por que Continuamos a Premiar a Burrice? É uma pergunta sobre a qual deveríamos reflectir.

Há muito que os reality shows fazem parte do tecido televisivo português. Apresentados como experiências sociais ou entretenimento “sem filtros”, tornaram-se, na prática, espaços cada vez mais vazios de conteúdo e mergulhados em ruído. O problema não está apenas na produção, nos concorrentes ou nos comentadores. Está também em quem consome, alimenta e exige tão pouco. Sim, o público. Ou parte dele, pelo menos.

Ano após ano, assistimos à reciclagem das mesmas fórmulas desgastadas. Os castings são, regra geral, um desfile de personagens criadas para o escândalo: gente moldada pelas redes sociais, pela sede de fama instantânea e por uma total ausência de substância. A diversidade real — social, cultural, regional, geracional — é ignorada em prol de estereótipos gritantes, broncos ou artificiais.

São escolhidos não pela riqueza das suas histórias ou pela capacidade de viverem em grupo com empatia, mas pela predisposição para o confronto, para o circo. E é precisamente isso que muitos dos espectadores pedem: gritaria, insulto, humilhação pública. Porque é esse o alimento de um certo tipo de audiência — e é impossível continuar a fingir que essa responsabilidade não existe.

O público tem culpa!

A verdade é dura, mas precisa de ser dita: parte do público português está a tornar-se cúmplice desta mediocridade. Não só assiste, como valida. Aplaude o disparate, idolatra o vazio, e transforma gente sem qualquer contributo relevante em celebridades instantâneas. Comentam com ódio, insultam com fúria, fazem juízos morais sem qualquer filtro — tudo em nome de um “entretenimento” que mais parece um espelho distorcido da nossa decadência cultural.

Mas a indigência não está só dentro da casa. Os comentadores, pagos para interpretar comportamentos e acrescentar leitura ao jogo, raramente o fazem com seriedade. A maioria limita-se a opinar com base no gosto pessoal, a julgar sem critério ou a lançar provocações para gerar cliques. Não há pensamento crítico, não há profundidade. E não há coragem para dizer o óbvio: estamos a assistir, em muitos casos, a um produto de fraca qualidade, para um público pouco exigente.

Porque sim, é necessário dizer: há falta de exigência do lado de cá do ecrã. Muitos consomem este tipo de conteúdo não por curiosidade sociológica, mas por pura sede de voyeurismo barato. Riem-se do outro, criticam a aparência, fazem memes de quem está fragilizado, e depois indignam-se quando os efeitos psicológicos vêm ao de cima. O problema não é só da televisão. É também da mentalidade de quem a vê.

A valorização do disparate!

Portugal tem talento, tem inteligência, tem sensibilidade. Mas não tem, infelizmente, um público suficientemente mobilizado para exigir qualidade na televisão de grande audiência. Enquanto a lógica for premiar o disparate, o grito e o vazio, é isso que nos continuarão a servir. E é isso que continuaremos, tristemente, a comer.

Está na altura de parar. De reformular os castings, de repensar os formatos, de escolher comentadores que tenham algo a dizer. Mas, acima de tudo, está na altura de o público português crescer. Porque a televisão, por mais que se queira escapar à responsabilidade, é apenas o reflexo daquilo que aceitamos como normal.

E neste momento, o espelho está partido — e estamos todos refletidos nele.

Portanto, a pergunta mantém-se sobre os Reality Shows em Portugal: Por que Continuamos a Premiar a Burrice?

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