Risco e emoção: Francisco Palha enfrentou os touros Palha em Alcochete numa noite de tudo ou nada, com vários momentos de realce.
Texto: Rui Lavrador / Fotografias: André Nunes
Primeira corrida da feira taurina de Alcochete
Na noite de sexta-feira, 8 de agosto, a Praça de Touros de Alcochete foi palco da primeira corrida da sua feira taurina. O cartaz apresentava-se com uma encerrona de Francisco Palha, que enfrentou seis touros da ganadaria Palha, conhecida pela sua dureza e exigência.
A presença de público foi significativa, com cerca de dois terços fortes da lotação ocupados, quase três quartos a olho nu. A expectativa era alta. Os aficionados sabiam que os touros da casa Palha são sinónimo de emoção e de imprevisibilidade, e que Francisco Palha é, atualmente, um dos nomes que mais arrisca em praça.
A corrida contou ainda com a atuação dos forcados amadores de Vila Franca de Xira e Alcochete, num alinhamento que prometia emoção do início ao fim.
O peso de uma encerrona
Uma encerrona é um momento raro e exigente. O toureiro enfrenta sozinho todos os touros da corrida, colocando-se num desafio físico e mental que está entre o heroísmo e a afirmação de carreira. Perante uma ganadaria como a Palha, a fasquia sobe.
Francisco Palha entrou em praça com atitude. A noite não resultou num triunfo artístico absoluto, mas valeu pela entrega e pela busca de momentos de grande risco. Foram esses instantes que marcaram a corrida e que mostraram a vontade do cavaleiro em testar os seus limites.
Oito touros na arena
A corrida ficou marcada por um incidente pouco habitual. Apesar de estarem anunciados seis touros, oito acabaram por pisar a arena. Um dos exemplares partiu um corno ao embater violentamente contra as tábuas e outro lesionou-se, ficando coxo. Ambos foram recolhidos e substituídos por sobreros.
Num dos casos, tratava-se de um touro que já tinha a ferragem comprida e que, pelo Regulamento de Espetáculos Tauromáquicos, estava dado como lidado. No entanto, foi oferecido o sobrero ao público pela empresa, pelo apoderado e pelo próprio cavaleiro. O gesto mostrou que a noite não era de meias medidas: ou tudo, ou nada.
Um estilo onde o risco é protagonista
Francisco Palha tem vindo a afirmar-se como um cavaleiro capaz de alcançar o topo da tauromaquia portuguesa. Nos últimos dois anos, tem seguido uma linha artística centrada no risco, procurando momentos da reunião em que tudo pode acontecer.
Essa abordagem, embora perigosa, cria uma tensão constante entre cavaleiro, touro e público. Quando resulta, o impacto é profundo. Quando não resulta, o preço é alto. Na noite de Alcochete, Palha apostou novamente nesta moeda ao ar.
Ferros de emoção e colhida sem consequências graves
Ao longo da corrida, Francisco Palha cravou cinco ferros de elevado valor nos primeiros cinco touros que lidou integralmente e mais três no último, este que foi recebido com uma sorte gaiola emotiva, após pedido do público ao cavaleiro.
O terceiro touro trouxe o momento mais preocupante da noite. Uma colhida sem consequências graves deixou o cavaleiro e o cavalo momentaneamente em risco. Ainda assim, Palha regressou à arena e cravou duas bandarilhas de mérito, pelo contexto em si, arrancando fortes aplausos da bancada.
Forcados mostram valentia
As pegas também tiveram um papel central na noite. Pelos amadores de Vila Franca de Xira, pegaram Vasco Carvalho (1ª tentativa), Rafael Plácido (2º intento) e Miguel Faria (5ª tentativa). Já pelos amadores de Alcochete, foram à cara dos touros Vítor Marques (3ª tentativa), Miguel Direito (3º intento) e João Dinis (1ª tentativa).
As investidas foram duras e exigiram dos forcados não apenas técnica, mas também coragem e resistência. O público valorizou o esforço e retribuiu com calorosas ovações.
Direção e final simbólico
A direção da corrida esteve a cargo de Tiago Tavares, com o médico veterinário Jorge Moreira da Silva a assegurar a componente técnica relativa ao bem-estar animal.
Após a lide do último touro, o ganadeiro deu a volta à arena ao lado de Francisco Palha. O cavaleiro saiu em ombros, acompanhado por várias crianças que partilharam com ele a última volta à arena, num gesto que trouxe humanidade e simbolismo ao fecho da noite.
Assim, Francisco Palha continua a ser um toureiro provocador de fortes emoções. Um cavaleiro de tudo ou nada. Ontem, deu tudo. E quando assim é, nada mais se pode exigir.
Nota: Manuel Telles Bastos, cavaleiro sobressaliente da encerrona, participou na lide do 4º touro da corrida.




