Entre ‘Estado Limite’ e ‘O Vagar’ há um espaço que só Duarte sabe cantar e emocionar, tal como ontem aconteceu em Évora.
Texto: Rui Lavrador / Fotografias: Diogo Nora
Évora, que será Capital Europeia da Cultura em 2027, tem em si a cultura do vagar, permitindo que ele nos guie por caminhos de serenidade e beleza.
Assim, por entre a história de tão bela cidade e os encantos das suas gentes, ao ali chegarmos somos absorvidos por uma tranquilidade da alma, contrastante com a correria a que a capital nos obriga, dia após dia.
Na noite de ontem, no inigualavelmente belo Teatro Garcia de Resende, Duarte subiu ao palco para o concerto comemorativo dos 20 anos de carreira.
E não há nada melhor que cantar perante as suas gentes.
Num registo único, que foi moldando no percurso, Duarte tem uma voz que ressoa com emoção e profundidade.
Ou seja, conseguindo tocar a alma de quem o ouve, transportando-nos para um mundo onde cada nota e cada palavra contam uma história.
As palavras cantadas sobre a vida quotidiana
Nesse sentido, é a autenticidade que cativa, com uma sensibilidade única que faz com que cada canção ganhe vida própria.
Em palco tem presença carismática, que envolve o público e cria uma conexão emocionalmente segura.
Assim, no Fado, respeita a tradição ao mesmo tempo que o renova permitindo que a sua música seja acessível a novas gerações, não deixando de fora os puristas.
No Garcia de Resende teve lotação esgotada, soube criar um ambiente quente (e se a sala estava fria…), levando o público para a sua sala de estar musical.
Seguidamente, também foi contando histórias.
Percorreu os seus 20 anos de carreira, com olhos postos no futuro, por entre Fado, canções, Cante Alentejano.
Ou seja, definiu um alinhamento bem conseguido, que permitiu ter sempre a atenção do público, agarrado por letras que contam estórias facilmente identificáveis com cada um de nós.
Por isso, destacar agora os convidados especiais.
Miguel Monteiro (além do talento na guitarra elétrica, com uma linguagem corporal e sensibilidade assinaláveis), Mara (que bom voltar a ouvir), Rita Dias, Pedro Calado (a sua voz continua a ser porto de abrigo para almas sensíveis) e o Grupo Cantares de Évora (brilhantes como sempre).
Fado e Cante a fechar noite emotiva
Deste espectáculo, destaque para ‘Estado Limite’, ‘Mais do Mesmo’, ‘Sobretudo Cinzento’, ‘Estranha forma de vida’ (à capella e que arrebatou o público num estrondoso aplauso) e por fim ‘Do Vagar’, absolutamente brilhante e que fechou com chave de ouro o espectáculo.
Instrumentalmente, esteve acompanhado por um trio de luxo e que funciona como poucos.
Nesse sentido, aplauso a Carlos Menezes no baixo e contrabaixo, João Filipe na viola de fado e Pedro Amendoeira na guitarra portuguesa. Irrepreensíveis!
Por fim, destacar Cândido Esteves no som e António Martins no desenho de luz, com a habitual (e indiscutível) qualidade e talento.
Uma noite com vagar, alma e música. Todos com qualidade marcante e intemporal.
Alinhamento:
Estado Limite (com Miguel Monteiro);
Não inventes;
ReViraVolta;
Mais do Mesmo;
Dizem;
Covers;
Sobretudo Cinzento;
Instrumental;
Olé Menina Olé (Cantares de Évora);
Terra da Melancolia (com Mara e Cantares de Évora);
Quadras de Um dia Sozinho (com Mara e Rita Dias);
Não importou que ficasse;
Saudades Trazes Comigo;
Estranha forma de vida;
Do vagar (com Pedro Calado, Cantares de Évora, Mara, Rita Dias e Miguel Monteiro).
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Por isso, Entre ‘Estado Limite’ e ‘O Vagar’ há um espaço que só Duarte sabe cantar e emocionar e que ‘Venham mais 20’ anos.