Lenita Gentil no melhor da primeira noite de Caixa Alfama, com um concerto arrebatador, intenso, magistral e que devia ter sido gravado!
A 12ª edição do maior festival de fado do mundo, agora novamente Caixa Alfama – depois de já ter sido Santa Casa Alfama, começou esta sexta-feira com um espectáculo no Largo do Chafariz de Dentro.
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Incontornável nome do fado é Lenita Gentil.
A artista, poderosa e de garra, actuou no Museu do Fado neste primeiro dia da 12ª edição do festival.
É deveras difícil encontrar as palavras certas para definir o que Lenita Gentil fez ontem em palco, tal a dimensão vocal, artística, poética e visceral, aqui e ali pontuadas com ligeiras pitadas de um humor inteligente e quiçá mordaz.
Senhora carismática (característica que parece ter-se perdido nas gerações mais novas), um portanto vocal, inteligente, com sentido de humor e capaz de dar as mensagens mais importantes com a elegância e elevação que apenas alguns predestinados fazem, eis Lenita Gentil.
Na esplanada do Museu do Fado, em noite ventosa e algo fria, Lenita aqueceu o coração e a alma de todos os que ali foram para ouvir (os que conseguiram entrar no recinto e os muitos que ficaram do lado de fora).
Acompanhada instrumentalmente por Ângelo Freire (brilhante, ontem particularmente inspirado), Flávio Cardoso e Paulo Paz, a artista voltou a demonstrar ser um animal de palco.
Contando com a extraordinária ajuda do seu relógio de serviço (Ângelo Freire foi quem controlou os tempos, com Lenita a provocar vários momentos hilariantes ao contar ene histórias), a fadista foi do fado tradicional à canção e ainda passou pelas marchas, num alinhamento todo ele muito bem conseguido, no qual fez ainda homenagens a Fernanda Maria e Max, sem esquecer de valorizar o trabalho de Arlindo Carvalho.
Nem o público escapou à traquinice saudável do espírito eternamente jovem e rebelde de Lenita Gentil. Noite épica e para recordar, num concerto que merecia ter sido gravado!
Do alinhamento constaram temas como ‘Maria Faia’, ‘Estranha Contradição’, Tarde Triste no Campo Pequeno (Resende Dias e José Guimarães)’, ‘Não passes com ela à minha rua (criação de Fernanda Maria)’, ‘Pomba Branca’, ‘Casei com uma Velha’, ‘Júlia Florista’, ‘Carmencita’, ‘Zanguei-me com o meu amor (Mouraria estilizado)’, ‘Quadras soltas no Fado Pechincha’, ‘Rosa Caída (Fado Tango)’, ‘Preciso de Espaço’ ou ainda ‘Lisboa Cidade Sol’.
Por fim, destacar que Lenita Gentil terá um novo disco e nele irá homenagear Fernanda Maria, cantando três ou quatro temas, segundo revelou.
Texto: Rui Lavrador
Fotografias: Carlos Pedroso