Maria da Fé emocionou o Coliseu de Lisboa numa homenagem inesquecível integrada no Caixa Alfama, na noite de ontem.
Texto: Rui Lavrador
Fotografias: Diogo Nora
O fado voltou a casa — e Maria da Fé foi o coração da noite
O Coliseu de Lisboa recebeu o terceiro e último concerto da reprogramação do festival Caixa Alfama, naquela que se tornou uma das noites mais marcantes da edição.
O espetáculo “Em Casa d’Amália”, apresentado ao vivo por José Gonçalez e gravado pela RTP1 para posterior transmissão, foi uma homenagem comovente a Maria da Fé, uma das figuras mais admiráveis e respeitadas do fado português e da cultura nacional.
A sala encheu-se de emoção e de um sentimento de gratidão coletiva. O público assistiu a uma celebração que reuniu gerações e consagrou o legado de uma mulher que moldou o fado com autenticidade e alma.
Uma homenagem à força e ao talento de Maria da Fé
No centro de todas as atenções esteve Maria da Fé, a artista que há décadas dá voz à verdade do fado.
A sua presença foi recebida com enorme carinho e admiração, num reconhecimento público da sua importância cultural e do seu contributo para a preservação e renovação do género.
O concerto contou com a participação de artistas que representam o melhor da música portuguesa: Jorge Fernando, Ana Moura, António Zambujo e Camané, acompanhados por músicos de excelência — André Moreira, Rui Poço, Luís Guerreiro e Paulo Paz —, numa noite que se tornou um hino à portugalidade.
Assinalar ainda a presença do apresentador José Carlos Malato.
Um alinhamento repleto de momentos memoráveis
O espetáculo abriu com “Tantos Fados Deu-Me a Vida”, interpretado em dueto por Jorge Fernando e Maria da Fé, momento que uniu emoção, história e cumplicidade.
Depois, Ana Moura encantou com “Búzios”, enquanto Camané emocionou com “Porta Maldita”.
Jorge Fernando recordou a sua “Trigueirinha”, antes de Ana Moura prestar homenagem ao irmão com “Lamento”, num dos instantes mais sensíveis da noite.
António Zambujo e Camané partilharam cena em “Senhora do Livramento”, seguidos por “Pica do 7”, que trouxe um tom mais descontraído e festivo, do qual não faremos já spoiler.
Entre o público, destacou-se a participação da fadista Ana Margarida Prado, que interpretou em dueto com Maria da Fé o tema “Fado Errado”.
Na reta final, Camané interpretou “Sei de um Rio”, Ana Moura cantou “Nossa Senhora das Dores”, e António Zambujo deu voz a “Loucura”, três momentos de elevada intensidade artística.
O espetáculo encerrou com chave de ouro: “Valeu a Pena”, cantado por Maria da Fé, num fecho simbólico e profundamente emotivo, que deixou o público em aplausos longos e sentidos.
Assinalar ainda a direcção artística de Jorge Fernando neste espectáculo, também ele um nome maior da cultura em Portugal.
Maria da Fé, a alma viva do fado português
Esta homenagem, integrada no Caixa Alfama, foi mais do que um concerto — foi um ato de reconhecimento a uma mulher que representa a essência do fado.
Maria da Fé é sinónimo de entrega, força e verdade. A sua voz, repleta de vivências e emoção, continua a inspirar artistas e a emocionar gerações.
Com serenidade e grandeza, mostrou mais uma vez porque é uma das maiores vozes da história do fado.
Maria da Fé é, e continuará a ser, um dos pilares da música portuguesa — uma artista que não canta apenas o fado, mas que o encarna.




