Algumas pessoas tem a capacidade de ler os outros sem que esses percebam que seus atos entregaram suas personalidades através do olhar dado ao afeto, ódio, medo, ou quem sabe através de suas almas.
Uma percepção como a descrita “Eles não sabem o que fazem”, proferida por Karl Marx durante seus estudos sobre o capitalismo e os danos ao trabalhador, comprova a sábia percepção daquele momento em que o povo seguia cegamente na labuta rumo a subsistência de sua família, mas somente ocorreu porque seus atores o queriam. O olhar aguçado de Karl Marx colaborou naquele contexto com a melhoria de vida daquela gente famélica, nos anos após as denúncias de vidas doidas. Ele trouxe a trágica descrição de um momento sem futuro saudável aos desabrigados, empilhados em sua pobreza, caso permanecessem com aquele trabalho desumano.
A estranheza a nós mesmos é comum de ocorrer porque andamos afoitos pela emergência de tudo, por vezes futilidade, e concentrados com pensamentos pouco lúcidos em verdade, que não nos faz sentido à cada dia sagrado, sem que olhemos ao redor e sintamos o que se passa em caminhos reais.
A fuga é o instrumento mais seguro para se cair prisioneiro daquilo que se deseja evitar.
No livro “Crime e Castigo” de Fiodor Dostoiévski, a jovem prostituta Sônia, miserável, afundada na lama até os cabelos, dá a mão à Raskólnikovpara caminharem juntos rumo a esperança.
É justamente nos miseráveis e marginalizados que o arquétipo da redenção humana encontra sua mais palpável realização. A redenção de Raskólnikov é o mais íntimo passeio pela alma de um pobre afundado em seus crimes, ao mesmo tempo, em que imerso num mundo em que só vivem os pequeninos. Neste romance, não há grandeza humana – estamos na sarjeta da existência, e lá há de brilhar a luz da salvação. Sônia acabou por perdoar as maldades de Raskólnikov, como um gesto de altivez e percepção de valor demonstrando estar milhões de anos-luz a frente dele, rasteiro que abusou de sua bondade.
O escritor Edgar Morin nos escreveu que a vida só é suportável se introduzirmos nela não a utopia, mas a poesia, que nos torna mais leves e francos, com requinte de detalhes e simplicidades da natureza, da vegetação e dos animais, cuja irracionalidade já se mostrou ser mais adequada que muitos de nossos pares.