Uma Lisboa Vintage em canção no Hotel Memmo Alfama com Teresa Brum e Carmo Moniz Pereira

Uma Lisboa Vintage em canção no Hotel Memmo Alfama com Teresa Brum e Carmo Moniz Pereira, foi uma das propostas do primeiro dia do Caixa Alfama

Texto: André Nunes
Fotografias: Nuno Almeida

A Celebração do Fado numa viagem temporal

Foi no Hotel Memmo Alfama que as duas fadistas iniciaram um concerto que rompeu pelos céus já escuros da noite de Lisboa. Não havia estrelas no céu, mas havia estrelas do cancioneiro português.

Tanto Teresa como Carmo irromperam com um fado de glamour em que os remates melódicos foram de nostalgia pelos fadistas que contrastavam com as ruas da Lisboa vintage. A Lisboa vintage que tantos cantam mas poucos se lembram ou querem saber que existiu mesmo: com carros retro e cores de sépia, de homens de fato bem vestidos e mulheres de chapéu do mais elegante possível. Quando a Pastelaria Suíça era a janela do Rossio e Alfama era Alfama. Quando a Lisboa típica, que hoje se vende para inglês ver, era, de facto, a típica Lisboa.

E Teresa e Carmo levaram-nos nessa viagem — quer a portugueses fãs do Caixa Alfama e com essas memórias, quer a estrangeiros que fizeram uma viagem a preto e branco com granulado vintage no tempo. Nem todos os artistas têm este poder de arranjo.

Um hotel, um palco, uma cidade a cantar

A acrescentar, o local! Um hotel que era uma fábrica de pastelaria e padaria reformulada, mas que mistura passado com modernidade numa delícia de ver, sentir e estar. A entrada pelas escadas rústicas que davam para o palco, um arco retro da Marcha de Alfama. 

Um hotel que, neste momento, estava embelezado pelas listas do panteão, das casas bairristas e de um Tejo que se torna místico devido ao anoitecer — em que calmaria, paz e introspeção reinam numa cidade sempre a abarrotar de TVDEs, trotinetas e vendedores de óculos de sol ambulantes e aleatórios nas ruas da cidade. 

Das janelas do casario em redor, as pessoas espreitavam para ouvir o som da sua infância ou dos seus avós. Deste lado, ouviu-se: “Porque celebramos fado e celebramos Alfama vou cantar a marcha de Alfama. Quem souber a letra que cante, quem não souber que diga ‘lá lá lá’ que está muito bom”. 

Fado, festa e memória

Uma tradição chamada Fado tão portuguesa como o futebol e Fátima foi, nesta noite, homenageada singelamente nas portas culturais mais altas, num hotel de excelência em Alfama.

Há algo de paradoxal no fado: é canção de saudade e, simultaneamente, etiqueta de comunhão. Ao ouvi-lo em espaços como o Memmo Alfama, não se trata apenas de escutar notas e versos; trata-se de reencontrar identidades partilhadas, memórias de família e ruas que guardam a vida de gerações.

O verso “Quando eu morrer venham contentes, tragam alegria e presentes”, de um dos fados cantados, enuncia um desejo festivo — que a morte seja celebração, que a partida seja ocasião de alegria e oferta. Essa inversão é profundamente portuguesa: mistura irreverência popular com resignação serena e brandos costumes. 

É um convite a transformar o fim em encontro, a vida em festa até ao último segundo. E o Fado, na sua reverência, irreverência e reversão da tristeza, faz isso como nenhum outro estilo musical. 

Siga-nos no Google News

Artigos Relacionados

Siga-nos nas redes sociais

31,799FãsCurtir
12,697SeguidoresSeguir
438SeguidoresSeguir
306InscritosInscrever