Sua Vez Chegará! Artigo de opinião por Raul Tartarotti, redigido em português do Brasil, país de onde é natural.
A coragem que é nosso tempero para as realizações na cruzada pela vida, não deve existir sozinha correndo riscos desnecessários, a vida pode ficar amarga, sem sal e inconstante, quase fraca de inspiração sem ela.
Descarte aquela máxima em que lutar pelo que vale a pena é coisa de pessoas de sorte, porque isso só pode ser uma piada pronta.
A construção de uma história pessoal sempre teve um resultado muito além do ponto da partida, seja ela do outro lado de um oceano ou de uma rua que nascemos e pensamos que seria para sempre nosso bairro.
A libertação das ilusões e o pensamento em dias bons e ruins, se faz necessário porque o tempo rotula a nostalgia à quem não se desprende do passado, e exige o que melhor podes oferecer a seu futuro.
Sendo assim, sua sombra não é um destino, é o passado, ela segue caminhos onde você já foi, e isso não deve chateá-lo, e também não dar muita atenção, porque ela está sempre em suas costas, seguindo para aprender ou mostrar o que você foi um dia.
Se notares bem, grande parte de sua vida escapa aos que fazem pouco, e a maior parte, aos que nada fazem por si ou pelos outros, ficam opacos na servidão de boas virtudes.
O espírito do tempo eventualmente demonstra uma apatia quando não tomamos as rédeas de nossas vidas. Aquela sensação de enxugar gelo decorrente das escolhas estressantes e exaustivas, nos faz adoecer ao invés de sentir a real emoção saudável que uma vida deve proporcionar.
A cada época o espírito se apresenta diferente porque as escolhas que fazemos passam a ser mais seletivas e com conteúdos complexos, formulados pela impaciência nossa de cada dia.
Buscar “Dias Felizes”, como escreveu Samuel Beckett em 1961, celebra a vida, ou o que restou dela, engolida e oprimida pelo que o homem fez de seu entorno e da própria humanidade.
A personagem do livro, Winnie, mesmo sugada pela terra, reduzida à miserabilidade de um cotidiano absurdo de ações irrelevantes e autômatas, e tendo chegado ao estado máximo de restrição a que um ser humano pode chegar, se sente enterrada com a mobilidade da cintura para cima.
Num primeiro momento, ou num segundo, apenas a cabeça se move, ainda assim a força da vida se impõe.
Ainda assim faíscas de um impulso vital iluminam o invisível, com a tranquilidade dos que sabem que sua vez chegará.